terça-feira, 22 de dezembro de 2015
Ao ano que fica para trás
Não gostei particularmente de ti. Não me trouxeste o sossego
mental que preciso, nem noites calmas e tranquilas de sono. Mas deste-me muitos
momentos de introspecção, de perda e de impotência. Levaste-me muitas vezes à
beira da loucura, de sentir que estava a um pequeno passo de perder a razão e o
discernimento, momentos esses que, de tão intensos, vão ficar para sempre
gravados em mim. Mas também me fizeste perceber que, apesar de tudo, ainda
consigo manter a capacidade de rir e de me sentir feliz. Tive demonstrações
incríveis de amizade e carinho, que aconteceram sem ser planeadas e no momento
certo, reacendendo um pouco de mim que estava adormecido. Este foi o ano em que
doei a minha farta e longa cabeleira, numa promessa solitária que não partilhei
com ninguém. E senti-me um pouco menos triste depois de o fazer, apesar de em
nada me atenuar a saudade. O meu filho todos os dias me pergunta se o meu
cabelo vai voltar a crescer e eu respondo que sim, mas que vai demorar bastante
tempo. O que não lhe digo é que ele marca o ritmo da saudade, que cresce a cada
dia que passa. Este foi ano em que mais abracei. E não tendo grandes conquistas
para comemorar, então que este ano tenha valido a pena apenas por isso, pelos
abraços que dei e recebi. Faltou-me apenas um abraço. Penso nele muitas vezes. Não
são raras as ocasiões em que sinto uma grande serenidade e é nessas alturas em
que penso que talvez esteja a sentir esse abraço que me faltava. Pelo menos gosto de pensar
assim. Agora podes terminar. Não tenho mais nada para te dar, nem espero mais
nada de ti. Finda e recomeça. Eu vou fazer o mesmo.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
Eu bem digo
Que as coisas me acontecem sempre em sequências temporais
curtas. Ou não se passa nada, rigorosamente nada, e eu sou muito feliz durante
esses períodos de tempo, ou acontece tudo e mais um par de botas ao mesmo
tempo.
Pois andando eu ainda a refazer-me psicologicamente do meu
encontro imediato com a aranha ENORME, que continua desaparecida algures dentro
do volante (e nem quero pensar que ela possa estar noutro sitio qualquer do
carro, senão então é que nunca mais lá entro), quando somos brindados com um
belo exemplar ratídeo que resolveu mudar-se aqui para casa. Portanto, as
noites são passadas em branco, enquanto sua excelência anda pelo telhado e nas
paredes, ao mesmo tempo que se tenta explicar a uma criança de 4 anos que não consegue
dormir por causa dos barulhos esquisitos (Ò mãe, são monstros assustadores, não
são?), que tudo não passa de um gato brincalhão que anda a brincar sozinho, e
que não há problema…
E apesar de não nutrir pelos ratos o mesmo medo irracional
que tenho por aranhas, ainda assim não deixa de ser extremamente desgastante
ouvir a noite toda, o xô doutor a roer sabe-se lá o quê e não puder fazer nada
para o impedir. Sim, já está todo um arsenal montado para apanhar o intruso,
mas também sei por experiências anteriores que isto pode ser tarefa muito difícil
e sem garantias de sucesso.
Eu não sou a cat person, mas talvez tenha de me render a
eles…
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
Era uma vez…
Uma condutora que pensava que tinha apenas medo de aranhas.
Sabia, por experiência, que estes pequenos e encantadores seres de 8 patas, lhe
provocavam repulsa e arrepios, e procurava, a todo o custo, evitar encontros
imediatos com estes seres tão patuscos do reino animal. Perante situações em
que era confrontada com o vislumbre destes seres, saía prontamente pela porta
que estivesse mais perto, saltava para o colo de quem estivesse sentado ao seu
lado ou simplesmente desatava a correr sem direção definida, descrevendo muitas
vezes círculos perfeitos, em perfeito desnorte.
Esta condutora, exímia condutora por sinal, ia em amigável e carinhosa cavaqueira com o seu pequeno príncipe de 4 anos e meio. Era já noite cerrada e um aparatoso acidente levou ao encerramento da estrada que os iria levar a casa e fez com que tivessem de regressar por uma estrada secundária muito pouco iluminada.
Esta condutora, exímia condutora por sinal, ia em amigável e carinhosa cavaqueira com o seu pequeno príncipe de 4 anos e meio. Era já noite cerrada e um aparatoso acidente levou ao encerramento da estrada que os iria levar a casa e fez com que tivessem de regressar por uma estrada secundária muito pouco iluminada.
A conversa prosseguia para deleite da mãe, que ia
concentrada a ouvir as histórias do pequeno petiz. Eis senão quando, pelo canto
do olho, esta exímia condutora detecta um movimento suspeito sobre o volante, a
escassos centímetros dos seus dedos. Na fração de segundo seguinte, dá-se uma
explosão de adrenalina quando reconhece a silhueta inconfundível deste ser de
oitos patas, e cuja dimensão das mesmas indiciava ser já de grande porte.
Com admirável destreza, atirou imediatamente o carro para a
berma, ao mesmo tempo que acendia a luz do habitáculo. O que viu deixou-a
complemente em pânico, mantendo apenas a lucidez suficiente para não desatar a
gritar para não amedrontar o petiz. Era uma aranha ENORME com um diâmetro de
sensivelmente 6 cm, bem constituída e robusta, que andava também ela em círculos
sobre o volante.
Sem armas ou objectividade suficientes para procurar uma forma
de se defender de tamanha ameaça, esta exímia condutora não foi capaz de fazer
frente à sua terrível inimiga de 8 patas, uma vez que se encontrava quase em
perfeito descontrolo emocional. O petiz, que observava curioso a estranha dança
que a mãe fazia fora do carro, tentava ajudar “Mãe, eu só sou corajoso com
aranhas pequenas… Com aranhas grandes não sou muito valente…”.
Sem discernimento para enfrentar o objecto do seu terror, e
que entretanto se escondera algures sob o volante, e sem coragem para voltar a
sentar-se no lugar onde momentos antes estivera a centímetros de estabelecer
contacto físico com a intrusa octopatuda, a exímia condutora resolveu pedir
ajuda ao seu cavaleiro andante, para que a fosse salvar da terrível aranha
GIGANTESCA que agora habitava nos confins do volante.
Reza a história que a aranha ainda lá continua, mas apesar
de não ter sido novamente avistada, nunca mais a exímia condutora voltou a
conduzir aquele carro, para gáudio do seu cavaleiro andante que assim recuperou
a posse da jóia da coroa. Apenas se sabe que a exímia condutora tem agora uma
certeza: não é medo. É fobia mesmo.
Vitória, vitória, acabou-se a nossa história!
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
Socorro!
A minha mãe descobriu a internet e o Facebook. Anda possuída a comentar,
a colocar gostos como se não houvesse amanhã, a partilhar tudo o que lhe
aparece à frente. Já tem 9 amigos. Destes, 5 já querem ser meus amigos também. Liga
para o cabeleireiro onde estou a desbastar a minha juba e pede, aflita, para me
passarem o telefone. Atendo já em ânsias, coração a mil, é com certeza uma
desgraça a caminho. Anna, como é que eu coloco o email aqui numa coisa que me
apareceu e que diz que vou receber um Iphone, se responder dentro de 10 minutos?
Medo. Tenho medo. Muito medo…
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
Teorias da conspiração
Não sou muito dada a elas, não penso que tudo seja uma
farsa montada, mas também me incomoda a forma como as pessoas consideram como
verdades universais tudo o que é dito/escrito/publicado quer pelas redes
sociais quer pelos mass media. Ouçam, leiam, mas por favor, cruzem informação. Procurem
confirmar fontes e dados antes de tomarem como certo aquilo que é repetido. E
pensem, antes de o tomarem como certo, quem é que tem interesse no que está a
ser veiculado. E porquê.
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
Verão de São Martinho
Pois parece que brilhei e consegui uma óptima nota, acima
das minhas expectativas iniciais. Estou muito feliz!
E aproveitando essa boleia, surgem no horizonte perspectivas
de um pequeno trabalho. A ver vamos, como diz o outro. Será que é desta que a
minha sorte muda?
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
Amanhã, esse grande dia
Em que vai acontecer uma de duas coisas: ou vou estar
descontraída e fazer uma boa apresentação de um trabalho que provavelmente será o
derradeiro da minha digníssima e incompreendida carreira académica, ou vou
enervar-me, meter os pés pelas mãos, atrapalhar-me com os slides, gaguejar e
fazer uma triste figura. Eu, que nem me considero uma pessoa de extremos, tendo
a oscilar entre estes pólos no que concerne a apresentações públicas, sobretudo
as sujeitas a avaliação. Não há cá tons de cinzentos. Ou brilho ou é
constrangedor assistir, por muito que depois me digam que não. Tudo depende do
nervómetro.
Portanto amanhã, por esta hora, de uma maneira ou de outra,
a coisa está acabada. Espero que com algum brilho…
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Doces ou salgadas?
Diz que o PR vai hoje voltar a falar ao país. Até calha bem, que há já muito tempo que não faço pipocas.
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
A Oeste nada de novo #3
Ainda bem
que o Cavaco considera que uma das competências do PR é a promoção da estabilidade governativa.
É que olhando para o discurso que proferiu, nem quero imaginar se ele tivesse outra
ideia em mente. Afinal, apenas fez o que toda a gente já sabia que iria fazer,
mas com mais inépcia, regando bem a coisa com gasolina e deixando o rastilho
aceso. Nada de novo, portanto.
terça-feira, 20 de outubro de 2015
Quando pensas que não podes descer mais baixo…
Dás por ti a ver o “Real Housewifes of NY”. Em minha defesa
tenho a dizer que estava a passar a ferro, o que transforma qualquer atividade,
por mais estúpida que seja, num momento de satisfação, apenas por me afastar dos longos monólogos com a tábua. Mas ainda assim, enfim…
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Retomamos a emissão normal dentro de momentos
Pois parece que, contra as minhas próprias expectativas (sempre
achei que iria chegar uma altura em que simplesmente iria constatar que não ia
ser possível acabar a tempo), tenho a minha dissertação pronta, já no forno da
reprografia a ganhar cor, para ser entregue amanhã, um dia antes do prazo
final. Depois vou guardar uma cópia da única edição de autor que farei em toda
a minha vida, guarda-la muito bem guardadinha, junto ao diploma de curso, para juntos
poderem conversar por toda a eternidade sobre isso de serem uns objectos muito
lindos para compor prateleiras.
sábado, 19 de setembro de 2015
Quase, quase, quase, mas mesmo quase a acabar
Só falta a introdução, a conclusão, o
abstract, tirar as duas últimas fotografias, formatar, passar quase um terço
para anexos, rever,…
(a minha noção de "quase" é muito sui generis,
admito)
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Ave Maria
Ando num limbo de sentimentos. Uma parte de mim está adormecida,
calada, quieta. Outra parte em ebulição, desassossegada, desconfortável. Consigo
obter alguma serenidade em pequenos momentos que me concedo enquanto fumo um
cigarro e deixo o pensamento vaguear. Há pouco, cansada de mais um dia em que
pouco acrescentei à vida, derrotada perante mais uma lista de gastos, enquanto
fumava o meu cigarro, comecei a ouvir o cântico “Ave Maria”, que começando de
mansinho, foi ganhando alento e sonoridade até preencher todo o silêncio da
noite. E eu, que nunca encontrei na religião ou na espiritualidade conforto, senti
uma grande serenidade interior enquanto ouvia as vozes femininas a cantá-lo. O
cigarro acabou e eu continuei ali, no meio do escuro do pátio, balançando na
cama de rede enquanto ia ouvindo o coro de vozes. Assim como começou, acabou e
eu voltei para dentro de casa. Continua tudo na mesma. Tese por terminar,
contas para pagar, futuro sem sorrir. Apenas eu fiquei um pouco mais serena. Talvez
deva dar Graças a Maria por isso.
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
Há festa no condomínio
Vou reunir com os meus
inquilinos, ambos os inquilinos de cima, mais os respetivos proprietários e o
perito do seguro. Estou aqui indecisa entre levar cerveja e tremoços ou se visto
uma armadura de combate.
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Vou jogar no euromilhões
- máquina da loiça com distúrbios de personalidade e pensa
que é um repuxo de jardim;
- Candeeiro de tecto que pensa que é fonte e pinga abundantemente;
- parquet em 3D
- casa em curto-circuito e sem luz;
- vizinhos de cima negam responsabilidades. Sim, claro, a água sobe por capilaridade, obviamente.
- toma lá uma otite para não dizeres que te dói só a alma;
- tudo no espaço de dois dias que é para não dizeres que é sempre ao mesmo tempo;
- Candeeiro de tecto que pensa que é fonte e pinga abundantemente;
- parquet em 3D
- casa em curto-circuito e sem luz;
- vizinhos de cima negam responsabilidades. Sim, claro, a água sobe por capilaridade, obviamente.
- toma lá uma otite para não dizeres que te dói só a alma;
- tudo no espaço de dois dias que é para não dizeres que é sempre ao mesmo tempo;
Cansei…
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
(...)
Tento
não pensar muito na morte. Não penso muito na minha, muito menos na do meu filho,
embora me vá mentalizando para a dos meus pais. Porque é essa a lógica normal. Primeiro
vão os pais. Depois os filhos. O entretanto é para ser vivido e sobretudo sentido,
abraçado, beijado, amado. Algumas palavras, poucas, fazem tanto sentido como um
abraço apertado. No fim, acho que não me irei arrepender do que não disse, eu não
digo muita coisa que valha a pena guardar, mas irei sentir sempre a falta de não
ter falado por abraços, ou por momentos de silêncio em que palavras eram desnecessárias,
e por serem desnecessárias, se ditas seriam banalidades, vazias. E é isto que me
está a consumir. Faltou-me o abraço. Algures no tempo não cheguei a dar aquele abraço.
Ficou no ar o “até já”. Um até já que vai ser tão longo como a minha vida inteira.
Um até já porque era assim que querias que fosse. E, perante a tua grandeza, nada
mais me resta, a não ser guardar o abraço que não te dei e imaginar-te a chamares-me
de tonta.
terça-feira, 18 de agosto de 2015
O universo é pequeno demais
Ajoelhei-me à sua frente para ficar à altura dos seus olhos.
Ia preparar-me para lhe explicar que naquela noite teria de ficar a dormir em
casa dos avós, coisa que, já tendo sido abordada no passado, tinha recusado
sempre. Mas antes sequer que começasse, pergunta:
- Mãe, porque estás assim vestida?
- Estou vestida de cores escuras porque estou triste.
- Porque estás triste?
- Porque perdi uma amiga de quem gostava muito.
- Porquê?
- Porque ela partiu para muito longe e eu já não vou poder voltar
a vê-la.
Nisto, resolve abraçar-me enquanto me segreda ao ouvido
- Não te preocupes, mamã. Eu vou sempre, sempre, teu amigo. Não
fiques triste…
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
E por falar em novidade no Oeste
Preciso de chegar à fala com uma alta personalidade do
executivo municipal. Estamos em pleno Agosto. Já me mudaram 3 vezes de extensão
e já fiz um email fundamentar o pedido, incluindo as questões que quero
debater. Gostava de mudar a ideia que tenho quanto ao atendimento municipal.
Gostava mesmo muito, mas para já não vejo absolutamente melhorias nenhumas…
Mas, lá está, eu ainda acredito (às vezes) no Pai Natal.
A Oeste nada de novo #2
Uma pessoa anda a ser melgada para ir ver os Mínimos. Tudo
certo. A ida ao cinema pela primeira vez andava na calha há já algum tempo,
aguardando apenas que a combinação “filme giro + bom comportamento + interesse
manifestado pelo petiz” acontecesse em simultâneo. Depois de várias falsas
partidas, eis que se marca a mítica estreia cinéfila do puto e concretiza-se a
aventura.
No fim, depois de uma inédita saída em que não houve nada,
zero reparos a fazer no que ao comportamento diz respeito, deixando a minha
alma perplexa e convicta que tínhamos estado perante um momento histórico na
nossa vida familiar, resolvo perguntar-lhe se tinha gostado do filme e qual tinha
sido a parte mais gira.
Sim, gostei mesmo muito do filme. A parte que gostei mais foi
da ovelha choné…Mãe, viste como eles fugiam para a cidade. Muito fixe!!
Este miúdo nunca desilude... Voltamos a tentar em Setembro, portanto.
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
O cúmulo da procrastinação
Ficar à janela a cronometrar o intervalo
de tempo entre descolagens dos aviões.
(mudar de poiso não está a ajudar...)
sexta-feira, 31 de julho de 2015
Outro peditório
Esta tese, mesmo que não seja
concluída em tempo útil, foi decisiva para fechar um capítulo de vida. Depois
desta saga dou por encerrada a minha vida académica, pelo menos no que a
títulos diz respeito. Há um (dois?) ano(s) atrás, embalada por uma média
elevada na parte curricular, ainda ponderei apostar num doutoramento. Agora só
me dá vontade de rir quando penso nisso. Sou uma tonta. Se há coisa que a vida
me tem ensinado é que há alturas em que é preciso deixar de bater com a cabeça
na parede e aceitar que se calhar o caminho não é por aí. E o meu caminho não é
por aqui. Falta-me a paixão, o entusiasmo para tentar fazer mais e melhor. Mas
espera lá, Anna! Ainda há meia dúzia de post atrás dizias que não te
arrependias de ter escolhido este caminho e agora estás com esta conversa? Vamos
por partes. Adorei contactar com um conjunto de pessoas que tiveram a paciência
e simpatia para me aturar, que perderam o seu tempo a conversar comigo. Isso,
para quem não é propriamente uma tagarela, foi maravilhoso e serviu para me
atirar para bem longe da minha zona de conforto. E senti-me algo especial por poder
testemunhar pedaços de histórias de vida que me sensibilizaram. Pelo valor que dou
a esses momentos, sim, não me arrependo de ter optado por fazer esta dissertação.
Mas todo o processo de verter para o papel, com detalhe e rigor, toda a
informação que entretanto se entranhou, solidificou, está a ser um parto muito
difícil. Facilmente perco a meada entre o que é meu e o que li de outros, as
fronteiras esbatem-se, misturam-se. Para mim isto é que é aprender. E eu gosto
de aprender, de alargar horizontes, pensar em coisas que são novas para mim e
desenvolver algum sentido crítico, mas depois há A tese. Com todo o formalismo,
formatação, citações, fontes e … e eu já não tenho paciência para ir ver onde é
que termina o que bebi de outros e onde começa o que é meu. E é aqui que eu
constato que definitivamente não me vejo a fazer isto novamente ou em moldes quotidianos.
Falta-me a arte, o engenho e sobretudo a paciência. Vamos ver se esta
dissertação chega a bom porto. Mas mesmo que chegue, o próximo rumo será
definitivamente diferente.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Constatações #4
O meu poder de síntese é inversamente
proporcional ao meu cansaço.
(Já o stress costuma contribuir para
aumentar o meu poder de síntese. Talvez não fosse mal pensado ir dormir e
acordar lá para Setembro.)
O nirvana educacional
Normalmente durante as conversas em que o tema é
enumerar os talentos dos filhos, fico calada. O meu filho tem 4 anos e ainda é
trapalhão a falar. Não fala inglês, embora por vezes ainda se expresse em
dialectos fantástico-incompreensíveis. Quando é para correr, fica sentado.
Quando é para sentar, desata a correr. Só conhece os números até ao 10, sendo
que não há vida para além do 20. Anda na natação e o que faz de melhor é
chapinhar na água, embora seja muito bom a molhar toda a gente. Não sabe ler, não
conhece as letras, nem escrever o seu nome. Também não faz desenhos lindos, nem pinta
dentro do contorno. Tanto mundo lá fora à espreita e o raio do miúdo ainda
não descobriu algo que me faça brilhar como mãe nessas conversas de recreio
parentais, sendo que, obviamente, serei tanto melhor mãe, quantos mais talentoso o meu filho for. Contudo, tudo mudou desde ontem. Agora sim. Posso entrar de
peito feito nas conversas sobre “o meu filho é híper-super-mega-especial. Sou
mesmo uma mãe cheia de sorte por ter um filho tão precoce”. Descobri que o meu
filho consegue matar moscas com um martelo pequenino. Tanto adulto que não
consegue com um mata-moscas normal e ele, com apenas 4 anos, mata as moscas à primeira tentativa com
um martelito com um diâmetro de uma moeda de 1 euro. É o céu. O nirvana. Agora
já posso deixar as janelas abertas.
quinta-feira, 23 de julho de 2015
Acho que também vou iniciar uma rúbrica nova
Casa alugada a um casal pré-sénior. Num mês já falei mais vezes com eles do que com os meus próprios pais. E já fui mais vezes lá a casa do que no conjunto total de anos que tenho a casa alugada. Primeiro era o esquentador que estava avariado e que não funcionava. Mas já experimentou trocar as pilhas? Quais pilhas? As pilhas que accionam a chama. Ah, não vejo. Onde está? Ao lado da chama. Como é que se abre? É só puxar pela lingueta. Ah! Vou experimentar.( Era falta de pilhas)
Depois foi a máquina de lavar roupa. Ò Anna, a máquina de
lavar roupa está avariada. Não faz descarga da água. É melhor chamar cá alguém.
Mas aconteceu alguma coisa durante o programa? Não… quer dizer, eu mudei o
programa a meio, apenas. Humm… olhe, faça um programa normal outra vez e se
continuar a acontecer, diga. (A máquina tem menos de um ano e funciona na
perfeição)
E a de hoje: Anna, estamos sem luz em casa. Todos os
vizinhos têm luz, menos nós. Já foi ver o quadro? Se calhar tinham muita coisa
ligada e o quadro disparou. Já fomos ver. Os disjuntores estão todos para cima.
E o quadro? Não tem nenhum botão saído? Qual botão? O que está do lado esquerdo
do quadro. Se estiver saído, carregue para dentro. Ah, vou ver e já lhe ligo.
Meia hora (meia hora!!) depois mandou uma sms a dizer já tinha conseguido pôr o
botão bem e que já tinham luz.
Começo a pensar em vez de ter resolvido um problema com o
aluguer da casa, arranjei vários e muita sarna para me coçar.
terça-feira, 21 de julho de 2015
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Não tem preço
Ouvir uma “jovem” de 81 anos a falar das suas memórias e
contar-me histórias sobre os teares de família os quais ainda hoje utiliza para fazer
peças de tecelagem e que já vinham dos seus bisavós.
Encontrar pessoas que já tinha inquirido há mais de um ano e perceber que não só continuo nas suas memórias mas também sou alvo da sua simpatia e amizade.
Perceber que isto do património imaterial é algo que toca muito mais fundo às pessoas que ainda detêm estes saberes e que extravasa em muito tudo aquilo que fica documentado. E com isto perceber que tudo o que possa vir a concluir nesta malfada tese, ficará sempre muito aquém porque é-me impossível verter para o papel todos os sentimentos e memórias que emolduram a herança viva que estas pessoas transportam.
Sentir-me pequenina face à riqueza cultural que estes artesãos possuem, em particular dos mais idosos, e à sua dedicação em manter vivas tradições ancestrais, muitos deles em condições financeiras e de saúde extremamente difíceis.
Não sei se vou conseguir acabar a tese a tempo, mas mesmo que não o consiga, de uma coisa tenho eu a certeza: não me arrependo de ter escolhido este caminho. A riqueza destas gentes é incalculável e eu adorei poder conhecê-las um pouco mais e de viva voz. Tudo o que escreva sobre isto será sempre pouco, insipiente e incompleto. E eu, bicho-do-mato e normalmente pouco à vontade nestas coisas de interpelar os outros, transfigurei-me por completo com estas gentes, tal foi a empatia que senti. Não tem preço. Nem palavras.
Encontrar pessoas que já tinha inquirido há mais de um ano e perceber que não só continuo nas suas memórias mas também sou alvo da sua simpatia e amizade.
Perceber que isto do património imaterial é algo que toca muito mais fundo às pessoas que ainda detêm estes saberes e que extravasa em muito tudo aquilo que fica documentado. E com isto perceber que tudo o que possa vir a concluir nesta malfada tese, ficará sempre muito aquém porque é-me impossível verter para o papel todos os sentimentos e memórias que emolduram a herança viva que estas pessoas transportam.
Sentir-me pequenina face à riqueza cultural que estes artesãos possuem, em particular dos mais idosos, e à sua dedicação em manter vivas tradições ancestrais, muitos deles em condições financeiras e de saúde extremamente difíceis.
Não sei se vou conseguir acabar a tese a tempo, mas mesmo que não o consiga, de uma coisa tenho eu a certeza: não me arrependo de ter escolhido este caminho. A riqueza destas gentes é incalculável e eu adorei poder conhecê-las um pouco mais e de viva voz. Tudo o que escreva sobre isto será sempre pouco, insipiente e incompleto. E eu, bicho-do-mato e normalmente pouco à vontade nestas coisas de interpelar os outros, transfigurei-me por completo com estas gentes, tal foi a empatia que senti. Não tem preço. Nem palavras.
quinta-feira, 16 de julho de 2015
À consideração do São Pedro
Agradeço
a manutenção do risco de incêndio em níveis baixos, por conta da neblina matinal e de fim de tarde. Tenha lá atenção com a Nortada que, parecendo que
não, não só incomoda como dificulta em caso de incêndio. Dizem os entendidos
que a coisa normalmente tende a melhorar em Agosto, mas eu gosto é do Verão em
modo contínuo, e o turismo também agradece, até porque o infantário encerra e
gostaria de levar o puto à praia sem correr o risco de o trazer para casa em
formato cubo de gelo. Já sei que poderia ter pensado nisso antes de escolher
viver aqui, mas eu gosto de sítios com personalidade torta e já que é para
pedir, então que seja em grande. Portanto, mande lá vir um Verão em condições
que a malta quer é calor e sol.
terça-feira, 14 de julho de 2015
Cúmulo do optimismo
Achar que vou conseguir terminar a tese a tempo, quando faltam
apenas 2 meses e meio para o fim do prazo, ainda só tenho cerca de 30% feito e o meu orientador já nem me responde aos emails.
Última hora
As rondas de conversações entre Anna Blue e a Balança
terminaram com uma troca desagradável de acusações, tendo culminado um corte
bilateral de relações. Em declarações ao espelho, Anna Blue afirmou terem sido
ultrapassados todos os limites que possibilitariam o regresso à mesa de
negociações. A Balança por sua vez declarou não ser mais possível esconder o
excesso de peso, apesar das inúmeras tentativas de pressão por parte de Anna
Blue para alterar de forma ilegal os valores apresentados. Após a reunião, que
demorou 5 minutos, Anna Blue decidiu adoptar um novo pacote de medidas de
austeridade alimentar, com efeitos imediatos e desenvolver uma agenda
desportiva diária. A nova ronda de conversações ficou agendada para o início da
próxima semana, a fim de avaliar os progressos alcançados.
segunda-feira, 13 de julho de 2015
domingo, 28 de junho de 2015
Dias azuis II
Nem sei do que vou ter mais saudades: se da interacção
forçada com outros pais (já confraternizamos com gente da Moita, do Barreiro e
do Algoz), se das manhãs passadas a ir pescá-lo das ondas, bem como tudo o que
é balde, regador e pás, nossos e alheios, ou de estar de sentinela às
construções dos outros putos dada a sua predileção por destruir tudo o que tem
mais de 10 cm de altura.
Há coisas que, não só não mudam, como ainda se refinam com o tempo. Quando é que eles começam a acalmar, mesmo?
Há coisas que, não só não mudam, como ainda se refinam com o tempo. Quando é que eles começam a acalmar, mesmo?
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Dias azuis I
Quis o acaso que tivesse sangue árabe a correr-me nas
veias. A ele devo provavelmente o gosto pelo calor e pelos dias de verão, a
preferência pelas ervas aromáticas em detrimento dos molhos, a assimilação
fácil dos sotaques do sul em vez da dicção mais politicamente correcta da
capital. Há alguns dias atrás disseram-me que pensavam que eu era alentejana ou
algarvia. Assim fiquei a saber que, para além do coração árabe, transporto
também expressões próprias do sul e nunca me tinha dado conta. Vou ao mercado
em busca de tomilho e dizem-me que não têm, apenas carqueja e poejo. E eu trago
carqueja e poejo. Não sei que vai ficar bem na carne, mas lembro-me que a minha
avó tinha sempre carqueja e poejo em casa. Dou-me igualmente conta que há
coisas que mudaram. As velhotas já não se sentam à soleira ao fim do dia a ver
quem passa e a maioria das casas aqui da rua está hoje abandonada. Passo por
elas e ainda me lembro dos nomes de quem lá viveu. A casa no Monte Costa está
agora completamente envolta em silvas e abelhas. Já não consigo lá entrar.
Ainda assim vou espreita-la a amiúde, numa espécie de peregrinação que só eu
entendo. O resto fica guardado na minha memória. Talvez um dia o meu filho
herde também o gosto por esta herança imaterial, por este património familiar
que não voltará a acontecer. Ou não. Mas enquanto aqui estamos dou por mim a
contar-lhe histórias que sei que ainda não entende. Tenho consciência disso,
mas sei que alguma coisa ele irá guardar. Nem que seja o cheiro a carqueja. Ou
a lembrança da temperatura da água do mar. Ou do calor tórrido que corre por este
serro abaixo e nos queima a pele ao chegar. Um dia ele saberá por que razão a
mãe retorna sempre a um ou dois sítios perdidos no meio da serra, por que insiste
em regressar aqui onde os dias são azuis, mesmo em pleno Inverno. Aqui sinto-me
em casa.
quarta-feira, 17 de junho de 2015
Constatações #3
O mercado de arrendamento é um mundo louco. A vida
está cara. Para todos. Manter um imóvel em condições implica investir na sua
manutenção. Há IMI, seguros e condomínio para pagar, sem falar na prestação
bancária de quem ainda o deve ao banco. Se um imóvel está bem cuidado,
mobilado e pintado não pode valer o mesmo que um que esteja a necessitar de
intervenção e por mobilar. Quando se assume que o valor é negociável, isso quer
dizer que se pode baixar um pouco o valor da renda mas não que esta seja metade
do inicialmente proposto. Mas há quem não entenda isso e considere que os proprietários
devem ser a Santa Casa da Misericórdia e contribuir para um mundo melhor, arrendando
pelo preço que o potencial inquilino está disposto a pagar, mesmo que isso seja
um valor anedótico. Quando a contraproposta é recusada ainda questionam o
porquê, mandam emails e batem à porta das restantes imobiliárias onde a casa
está em montra. Há ainda quem negoceie o arrendamento para depois subalugar,
achando que num meio pequeno onde toooooooooooda a gente se conhece isso nunca
viria a saber-se. Sem esquecer ainda os que não têm rendimentos, nem dinheiro
para a renda de caução nem fiadores mas ainda assim dizem que vão conseguir
pagar e ficam ofendidos quando são recusados. Ok. Ingénua, mas não tanto. E ainda
estrabucham e são mal-educados. Depois de 5 meses com a casa para alugar chego
à conclusão que existe gente muito descompensada por aí. E uma grande parte
dela está a tentar alugar casa.
Loud places
Eu também preciso deles com a mesma cadência que
preciso dos silêncios. São as duas faces da mesma moeda.
Cúmulo da ingenuidade
Mentirem-te descaradamente e tu não só não percebes como ainda te ofereces para ajudar.
terça-feira, 16 de junho de 2015
Dos reencontros
Pegar nas palavras escritas e esquecidas e nas lembranças de
outros tempos. Limpar-lhes o pó e colocá-las ao sol a esvoaçar. Deixar que
voltem a nós mais uma vez, e outra e outra. Regressar ao lugares de memória, podando
a nostalgia e deixando apenas ficar a essência que deu origem à escrita. Há
momentos cujo porquê já esqueci. Outros há em que ainda lhes sinto o cheiro. E
depois há surpresas escondidas que permitem um reencontro com outras palavras e
sentidos alheios. Formas de estar e de sentir, pequenas histórias de vida com magia
dentro. E, sem andar à procura, mas feliz por ter tropeçado naquele detalhe,
fico agora sem saber se celebro a alegria deste reencontro sozinha ou se
timidamente lhe digo que estou feliz por a ter reencontrado, porque afinal
ainda sinto o cheiro da magia das suas palavras. A vida muda, as pessoas mudam,
a escrita muda. A empatia não. A minha pelo menos.
sexta-feira, 12 de junho de 2015
O estigma do desempregado
A propósito de comentários que tenho vindo a colecionar,
chego à conclusão que uma pessoa que se encontre desempregada não pode:
1. andar bem arranjada. Isto inclui pintar o cabelo e
arranjar as unhas. Dado que não tem rendimentos, deve por isso viver de acordo
com essa condição. Deve deixar crescer as raízes, lavar o cabelo apenas uma vez
por semana e usar sempre calças de fato de treino e t-shirts largueironas. Parece
que a única razão pela qual as pessoas se vestem decentemente é apenas para
irem trabalhar.
2. ir ao café ou sair
de casa. Sair e ir beber um café é um acto que só está reservado a quem
trabalha e ganha um salário, pois basta colocar o pé fora de casa para estar
sujeita à condenação da comunidade.
3. ter qualquer tipo de vida social. Se está desempregada
deve viver enclausurada em casa e carpir a sua condição de desempregada até ao
limite.
4. ser sorridente ou
bem disposta. Deve comportar-se de forma depressiva e expor as suas dificuldades
a quem com ela se cruze, não deixando margens para dúvidas que vive de forma
miserável.
Nos pontos anteriores há algum exagero, é certo. Mas vivendo
numa comunidade pequena, e que muitas vezes se equipara a um regresso ao
recreio escolar, há olhares e expressões que, apesar de não serem verbalizados,
deixam transparecer este tipo de pensamento. E, infelizmente, há outros que
chegam mesmo a ver a luz do dia e que validam os pontos anteriores. Não é fácil
viver sem saber o que o dia de amanhã trará e requer força de vontade não
deixar o pessimismo tomar conta do dia-a-dia. Não demonstrar a angústia sobre a
incerteza do futuro não faz de mim melhor pessoa, embora seja mais agradável
para quem comigo priva. Mas perante estes pequenos episódios que vou
registando, fico a pensar que vivo/vivemos num mundo muito pequenino, onde se
categorizam as pessoas apenas com base na sua situação profissional e pelo que
exteriorizam. Nada de novo, portanto. Continuamos, como sempre, a viver de
aparências.
quinta-feira, 11 de junho de 2015
Oiço vozes
Desta vez é a sério. É hoje que eu vou pegar na minha tese e
refazer tudo. A sério! Não, não, é só mais uns minutos, estou aqui a ver uma
coisa na net e vou já de seguida. Espera, deixa lá só espreitar mais isto. Eh pá,
deslarga! Eu preciso só de encher a cabeça com lixo cibernético para depois
estar mais motivada para esmiuçar aqueles artigos, não entendes? Sim, sim, já
vou, já vou… Fónix!!! é já quase uma da tarde e não me disseste nada?! Porra, não
se pode confiar em ninguém, nem mesmo na própria consciência… Olha, vou fazer o
almoço e depois pego nisso. Eh, pá deixa-me da mão, já disse!
(Santa Engrácia devia ser a padroeira dos alunos de mestrado)
(Santa Engrácia devia ser a padroeira dos alunos de mestrado)
terça-feira, 9 de junho de 2015
Pergunta para queijo #2
Perante a possibilidade de ter de obrigatoriamente reduzir a
actividade física do miúdo, eu pergunto: e onde é que se tiram as pilhas?
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Três em um
1. Deixei de poder estacionar o carro em frente a casa.
Tenho um monte de calhaus da calçada no lugar do carro.
2. Por indicação médica vou ter de dar doses cavalares de
praia ao puto (oh, que chatice!)
3. Há quem sonhe com Lamborghinis roxos. Eu tenho pesadelos
com a minha tese. Aliás, toda ela é um pesadelo. Limito-me a reviver o meu dia-a-dia
durante a noite.
Num mundo perfeito eu levaria o puto à praia e, enquanto ele
brincaria sossegadamente à beira da água, eu conseguiria avançar alguma coisa
na dita. Da próxima vez que eu pensar em voltar a estudar, internem-me por
favor.
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Live report from ruralidade
Estão a fazer uma intervenção às condutas de água aqui na
rua. Tenho vista para a retroescavadora que está a milímetros da parede da casa.
Abriram uma vala em frente à minha porta e depositaram o monte de escombros
carinhosamente ao lado. Fui à pressa tirar o carro enquanto ainda se conseguia
circular. Estão 5 marmanjos a mandar vir uns com os outros há mais de 1 hora e
corre água a rodos. Não sei se quero ver o resultado final da intervenção…
Rota das Consultas (em elaboração)
Distância: cerca de
1500 metros. Pode aumentar dependendo do número de ramais percorridos, alguns
de forma recorrente.
Duração: variável. Usualmente
não menos de 2h.
Tipo de percurso:
circular, linear, triangular, hexagonal, outros não especificados.
Altitude máxima:
depende do número de cadeiras empilháveis na sala de espera.
Grau de
dificuldade: adversidade do meio = 3; Orientação=4; Tipo de piso =2; Esforço
físico=5
Ponto de partida e
de chegada: parque de estacionamento da unidade de saúde.
Pontos de
interesse: recepção, sala de espera, consultório, gabinete de exames, parque de
estacionamento.
Época aconselhada:
todo o ano. Com condições meteorológicas adversas aconselha-se o uso de
vestuário e calçado adequado (solas com elevado nível de aderência).
Descrição: a Rota
das Consultas é um percurso misto (linear, circular, outros) que liga as várias
unidades de saúde que constam do programa mais extenso delineado pela pediatra.
Desta forma a Rota das Consultas pode ser percorrida em várias etapas sendo constituída
pelo PR1 - Consulta de Pediatria, PR2 - A Magia da colheita de sangue e de
urina, PR3 - Consulta de Otorrino, PR4 - Na Senda do Timpanograma, PR5 - A
Conquista do Audiograma. A partir deste último existe ligação ao PR1.
Esta é uma rota
única, que permite aos participantes elevar de forma sustentada os seus níveis
de stress, uma vez que a criança, extremamente activa por sinal, passa imenso
tempo em espaços fechados, sem grandes distrações. A tranquilidade da colheita
de sangue e urina é apenas interrompida pelos gritos e tentativas de fuga do
menor, prontamente controladas pelos progenitores e alguns prestadores de
cuidados.
Actualmente estão a
decorrer ainda os trabalhos de marcação e sinalética dos PR3, PR4 e PR5 (descrição
destes percursos disponível em breve)
No fim da rota espera-vos
um possível diagnóstico, uma melhoria significativa da condição física do menor
e decisão quanto ao próximo caminho a percorrer.
sábado, 30 de maio de 2015
Tão bom!
Fazer uma maluqueira, só porque sim. Mandar tudo às urtigas, não ter plano B e não me ralar nada com isso. Seguir apenas a vontade de o fazer, não importa o resto.
Há tanto tempo que eu não soltava as amarras assim...
Há tanto tempo que eu não soltava as amarras assim...
sexta-feira, 29 de maio de 2015
É para ficarmos optimistas?
“Lembra-se da última vez que a economia portuguesa cresceu seis trimestres seguidos?” Sim, sim… estou aqui que nem posso, a dar pulos de
contente. Mal posso esperar pela saída da Grécia do euro.
Coisas que me fazem soltar verborreia ofensiva
Limpar o pátio a preceito, com direito a dores musculares em
sítios onde eu já nem me lembrava que tinha músculo, e depois vir a nortada e
deixar quase tudo na mesma. Eh pá, que fixe. Pena que a minha queridíssima vizinha,
proprietária da nogueira que me conspurca o pátio o ano inteiro, não me tenha
encontrado hoje. É que ela julga que me faz um grande favor em manter a
nogueira. Só.Que.Não. Tanto vendaval, tanta tempestade, tanto raio e não há nenhum
que caia em cima da dita (nogueira). A árvore está podre, a cada Inverno que
passa, caiem troncos que dá para alimentar a lareira mais do que um dia, as
nozes não prestam ou têm bicho e ainda serve de passagem para os ratos subirem
ao telhado, sem esquecer as sementes que enchem tudo de pó na Primavera e as
folhas ao longo do ano, em especial no Outono. Ai que giro, Anna! Tens uma
nogueira que te dá sombra! Olha, por falar em sombra, sabes onde punha eu a
nogueira? Sabes?
É isso mesmo.
É isso mesmo.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
(In) Fertilidade
Mais uma vez vejo-me confrontada com a minha memória
selectiva. Foi um processo longo e emocionalmente desgastante, porque no
decurso de cada tratamento que se faz, constroem-se sonhos, vive-se um estado
de pseudo-gravidez com tudo o que isso implica. Na realidade, aqueles dias,
semanas de espera são vividos num equilíbrio precário entre alimentar as expectativas
ou racionalizar o possível insucesso do tratamento, tudo isto no meio de um
cocktail de hormonas que nos deixam física e psicologicamente à beira da
loucura. A TPM é para meninos. O mundo gira à volta de horários, injecções,
ecografias, consultas. É impossível manter uma aparente normalidade e é por
isso que as pessoas bem-intencionadas, que nos aconselham para não stressar,
recebem muitas vezes um olhar assassino. Não é por mal, mas esse é um discurso
perfeitamente desnecessário. Se querem ser solidárias, digam tudo menos isso.
Se eu tivesse recebido um euro por cada vez que alguém me disse para relaxar,
estaria rica. Ok, não rica, mas dava para uma bela mariscada em família. Talvez por essa
razão acabei por ser uma espécie de porto de abrigo para alguém que está a
passar por isso pela primeira vez. As perguntas foram muitas e eu dei por mim a
constatar que recalquei, esqueci, apaguei a maior parte dos detalhes do
processo. O puto nasceu e eu fiz um reset. É como se não quisesse voltar a ser
confrontada com a angústia da incerteza. Contudo, acompanhar esta 1ª viagem de
alguém, foi apaziguador. Os fantasmas afinal não metem assim tanto medo. Mais
uma gaveta arrumada. E ainda bem, porque tudo indica que esta viagem terá um final
feliz e eu sinto-me grata por participar nela desde o início.
quarta-feira, 13 de maio de 2015
A idade dos porquês no rescaldo da ida ao Jardim Zoológico.
Mãe, estou triste… Não vi dinossauros.
Isso é porque os dinossauros já não existem, apenas nos desenhos animados.
Mas porquê?
Porque eram muito grandes e depois faltou comida.
E porque faltou comida?
Porque houve uma altura há muito, muito, muito tempo atrás em que a noite foi muito longa e depois não crescia comida para eles.
E porquê que a noite foi longa?
Humm…Um dia vais perceber melhor.
Mãe?...
Sim?
Amanhã faz dia?
Sim, amanhã há dia…
E os dinossauros vão voltar?
Não, os dinossauros não vão voltar.
Porquê?
(…)
Isso é porque os dinossauros já não existem, apenas nos desenhos animados.
Mas porquê?
Porque eram muito grandes e depois faltou comida.
E porque faltou comida?
Porque houve uma altura há muito, muito, muito tempo atrás em que a noite foi muito longa e depois não crescia comida para eles.
E porquê que a noite foi longa?
Humm…Um dia vais perceber melhor.
Mãe?...
Sim?
Amanhã faz dia?
Sim, amanhã há dia…
E os dinossauros vão voltar?
Não, os dinossauros não vão voltar.
Porquê?
(…)
quarta-feira, 6 de maio de 2015
Anna Blue a caminho do estrelato
A propósito do Dia da Mãe, fui apanhada numa aula de
Zumba à qual não podia escapar. Ora acontece que a minha habilidade nestas
coisas de danças em grupo é semelhante à graciosidade de um elefante numa loja
de porcelanas. Toda eu sou (des)coordenação motora e (falta de) ritmo. Mas os
olhos contentes do puto ao observar-me, feliz por me ver ali, deitaram por
terra a minha relutância em participar. E assim, imbuída de uma capa de
coragem, dei o corpo ao manifesto e resolvi disparar braços e pernas (e pedidos
de desculpas) em todas as direcções. Não, não foi bonito de se ver. E espero, sinceramente,
neste momento não fazer parte de nenhum vídeo viral daqueles que pululam a
internet ao som de gargalhadas de fundo. A coisa passou-se e eu dei por
encerrado o episódio caricato. Qual não é o meu espanto quando uns dias depois
abro o facebook e tenho resmas, paletes de pedidos de amizade. Todos de pessoas
que tiveram a infelicidade de ver o meu show. Vou considerar que esta onda de popularidade
se deve simplesmente ao meu charme natural e que não tem nada a ver com o facto
de eu ter dado nas vistas com os meus dotes dançarinos. Vamos pensar que sim.
terça-feira, 21 de abril de 2015
Out of the blue
Recebo um pedido de conexão no LinkedIn de alguém
aqui dos blogues. Não faço a menor ideia por que razão esta pessoa me quer
adicionar, tanto mais que não temos conexões em comum, nem nos movemos nas
mesmas áreas profissionais. O mundo é uma ervilha. Dou por mim a matutar que na
realidade somos apenas meia dúzia e por isso acabamos a esbarrar nas mesmas
coisas, nas mesmas pessoas, nos mesmos sítios. E não deixo de pensar que sei
mais sobre esta pessoa do que ela sabe sobre mim, o que não deixa de ser
curioso numa altura em que a protecção de identidade é um dos temas quentes
aqui no recreio a que chamamos blogosfera. E é por isso que, apesar de ir escrevendo
o que me dá na real gana, não deixo de colocar sempre um filtro no aqui fica
escrito.
sexta-feira, 17 de abril de 2015
Azimute Sul
E de repente, dás-te conta que há imenso tempo que não
vais à capital. Meses. Mais de seis, pelo menos. E sentes uma grande leveza por
isso. De tal forma que dás por ti a pensar que provavelmente já nem sabes
conduzir no meio de tanta confusão. Longe vão os dias em que diariamente perdia
tempos infinitos, parada no trânsito ou à espera de transporte e aproveitava
para contemplar as últimas tendências (ou não) da moda com quem comigo se
cruzava. Conhecia os atalhos que me eram úteis, os lugares que a Emel ainda não
tinha taxado e até um ou outro arrumador de serviço. Sentia que conhecia o
burburinho da cidade, aquela cadência de barulho. Lembro-me de perceber uma
certa agitação no ar em dias mais mediáticos e isso fazia-me sentir parte da
mol urbana. A minha vida agora é outra. Centra-se aqui, onde estou, longe da
confusão, num ambiente que eu apelidei de ruralidade. Por opção, foi aqui que
escolhi ficar. Aqui onde ainda há ovelhas a pastar, que me acordam de manhã com
o seu balir, onde os senhores usam boina e as senhoras vão às compras de bibe. Aqui
acostumei-me a deixar de ser a Anna para passar a ser a mãe do meu filho.
Poucos sabem como me chamo, mas perguntam-me sempre pelo menino. Eu, que sempre
quis ser anónima, sou por demais conhecida neste meio pequeno, e isso traduz-se
num certo sentimento de pertença ao qual eu me julgava imune. Hoje fui
desafiada para voltar à cidade por uma noite. Tertúlia no feminino. Não há como
recusar. E é neste ponto que me apercebo que há tanto tempo que não rumo à
cidade que desconfio que vou ter de usar o GPS. A Catarina que me indique o
caminho que eu já perdi os meus mapas mentais. Ou apenas os tenha transformado
noutros, mais distorcidos, esfumados pelo tempo. Sabe bem regressar e respirar
outros ambientes. Sair da toca, ver outras cores, outros mundos. Mas sabe-me
ainda melhor perceber que me sinto bem aqui. Somos criaturas de hábitos,
sobretudo aqueles que nos ficam bem na pele.
quarta-feira, 8 de abril de 2015
A nobre arte da paciência #2
Preciso de ir novamente imprimir uma página à
papelaria da aqui da ruralidade. Desta vez vou levar o ficheiro em pdf. Aceitam-se
apostas para o tempo que vou demorar.
Por vias das dúvidas já coloquei a página a p/b.
Por vias das dúvidas já coloquei a página a p/b.
terça-feira, 7 de abril de 2015
Deste cansaço que não tem fim…
Nesta longa cadeia de acontecimentos que parece não ter fim,
dou por mim sem saber para que lado ir, que opções tomar, com pouca convicção que
o que quer que almeje, sonhe ou empreenda venha a correr bem. Nem sei bem
quando é que deixei de acreditar que as coisas podem dar certo. Sou de colocar
as raízes no chão e deixar voar as folhas e as sementes ao sabor do vento, mas à
medida que as tempestades passam por mim a uma cadência mais rápida que a minha
capacidade de regeneração, dou por mim a baloiçar cada vez mais, com cada vez
menos certezas se as opções a tomar são certas ou se ainda me trarão mais
amargos de boca. Sinto-me cansada, gostava que o mundo, as preocupações e todas
as restantes urgências parassem por um tempo. Apenas o tempo suficiente para
poder voltar a assentar as minhas raízes, descansar as pernas e voltar a
desenhar sonhos. Mais triste do que não ter sonhos é sentir que estamos a perder
a vontade de os criar sequer. Talvez mais tarde eu olhe para trás e veja que
esta foi apenas uma fase muito má. Talvez volte a sonhar e a apreciar o tempo a
passar devagar. Mas agora, e cada vez mais, o que me domina é este cansaço,
este peso nos ombros, esta falta de vontade de sorrir e de olhar para o futuro
de forma despreocupada e simples. Preciso novamente de tomar opções, de decidir
rumos de vida e, se até aqui fui conseguindo levar a coisa com optimismo, neste
momento não faço a mínima ideia de qual será o melhor rumo. A não ser que tenho
forçosamente de tomar um. E rápido. E sinto as pernas tão cansadas…
domingo, 15 de março de 2015
Desta parentalidade que não é minha
Mais do que as
palavras falam os gestos. Mais do que os gestos, a ausência deles.
sábado, 14 de março de 2015
sexta-feira, 13 de março de 2015
Atendendo ao estado geral das coisas
E ao rumo da minha vida em particular, não sei se será prudente pôr o pé fora de casa hoje.
quinta-feira, 12 de março de 2015
Das coisas que nos tocam
Alguém que nunca
vimos pessoalmente e apercebendo-se que tenho o meu filho doente, nos diz que
vai correr tudo bem e nos engloba nas suas preces.
terça-feira, 10 de março de 2015
A vida, essa comediante motivacional
Poderia falar de
como fiquei empanada com o carro. Ou de ter partido um dente. Ou de ter provavelmente apanhado
uma multa, isto apenas nas últimas 24h. A continuar assim talvez seja melhor
enfiar a cabeça debaixo da almofada, a tal que não me deixa dormir, e esperar
que esta onda de azar se vá embora. Ou ir à bruxa, já nem sei. Vou só ali
apanhar um bocadinho de ar (e esperar que não me caia nada em cima) e já volto.
Ou não.
sexta-feira, 6 de março de 2015
A nobre arte da paciência
Levarem meia hora
para me imprimirem duas folhas em word na única papelaria, aqui da ruralidade,
que faz impressões. Meia hora. Trinta longos minutos. Aparentemente a culpa foi
minha que não coloquei os ficheiros em pdf. Sim, a vida na ruralidade pode ser
extremamente relaxante e bucólica, desde que utilizem o formato certo. Ou
tenham uma impressora que funcione.
quarta-feira, 4 de março de 2015
Os passos da imperfeição
Eu não sei o que
vai na cabeça dos políticos. Como é que alguém, da esquerda à direita, pode
sequer pensar em chegar a primeiro-ministro e não fazer o simples exercício de
rever e rectificar todas as situações que sejam “imperfeitas” em termos
fiscais? Como é que neste contexto específico de crise, em que tanta, mas tanta
gente faz o impossível para atingir a perfeição fiscal (e nem sequer me vou
alongar sobre a carga estupidamente pesada de impostos que todos nós pagamos,
nem no dever enquanto cidadãos contribuintes de honrar as nossas obrigações) e
aquele que deve estar acima de qualquer suspeita, não nos honra com o
cumprimento cabal das suas obrigações contributivas? Como é que é possível
ser-se tão imperfeito intelectualmente para não considerar que, a partir do
momento que se é eleito para um cargo de topo no governo de uma nação, toda a
sua vida fiscal e profissional será alvo de análise? Eu estou para lá de
estupefacta. Que estamos entregues a uma corja de sanguessugas de privilégios
próprios já se sabe há muito, mas a falta de visão de uma coisa tão simples e
tão óbvia, causa-me vergonha alheia. Estamos, portanto, entregues a pessoas que
consideram que o cargo de primeiro-ministro se coaduna com a existência de “imperfeições”
que ao comum cidadão não são admitidas. E é esta displicência que me causa
engulhos. Se nem para conseguirem chegar ao topo os políticos se esforçam para alcançar
a perfeição, como é que querem que um país acredite que iremos ser conduzidos
por gente séria (e também aqui não me vou alongar sobre a honestidade e idoneidade)
e capaz de ir até ao limite do possível, se não o são em causa própria?
Há uma frase que
ainda hoje é recuperada em jeito de private joke: “era pô-los todos num
saco, amarradinhos e bem fechadinho e mandá-los para (inserir conflito
armado sangrento do momento)”.
Puta que os pariu.
terça-feira, 3 de março de 2015
Resoluções de Março Novo
Voltar a vestir a
roupa que repousa no roupeiro. O caminho vai ser duro. Tal como o foi há 10
anos atrás. Nessa altura sumiram-se 17 kg. E ainda hoje me lembro da sensação
maravilhosa de conseguir lá chegar por mim, para mim e apenas contando comigo. O
mundo era meu e eu estava pronta para o conquistar. A fasquia agora está
ligeiramente mais baixa. São 10 kg para abater. Mas eu sou resiliente. E paciente.
E preciso de um desafio que dependa inteiramente da minha determinação. Que
dependa apenas de mim e do meu esforço, sem factores externos a interferir, sem
precisar daquela pitada de sorte. É muito fácil entrar numa espiral de pessimismo.
Demasiado fácil e são demasiadas coisas a acontecer ao mesmo tempo a puxar-me
nessa direcção. Vamos então abrir as hostilidades. Venha a Primavera. Venham as
caminhadas. Venha o Sol. Encontramo-nos por aí e eu comigo mesma.
segunda-feira, 2 de março de 2015
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Às vezes
Dás por ti a pensar que
alguém lá em cima tirou o dia para te infernizar. Imagino-o assim a fazer
pim-pam-pum e a escolher uma vítima para as suas partidas. Com tantos dias em
que os azares podem bater à porta por que raio resolve concentrar tudo num
único? Podia brindar-me com uma enxaqueca (daquelas que mal dá para abrir os
olhos) hoje, o puto a arder em febre amanhã e uma avaria geral nas
telecomunicações noutro dia qualquer. Mas não. Tudo no mesmo dia é que é bom.
Ora vamos lá testar os níveis de resistência ao stress aqui da moça. Guess what?
Andam nos mínimos. Só espero estar igualmente na calha quando chegar a altura
de distribuir surpresas boas, combinado?
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Pobreza
Era uma daquelas
pessoas que não passam despercebidas. Longa cabeleira loira, casado comprido
com pêlo nas mangas e na gola, unhas impecavelmente pintadas, mala de marca e sapatos
de salto alto no mesmo tom, calças de bom corte. A forma entusiasmada como
falava, sobre uma nova perspectiva de emprego, despertou-me a atenção. Falava
alto, com um timbre seguro e gargalhada fácil no tom certo. Fiquei a ouvir a
conversa enquanto bebia o meu café. Nesses minutos percebi que sou, de facto,
de origens modestas. Dizia esta senhora de bom ar, que as pessoas compram casas
boas, até na Expo, e depois fazem carne picada com chouriço e não pode haver
coisa mais pobre que juntar chouriço à carne picada, quando há tantos outros
temperos e molhos. De pobre! Fiquei então a saber que, se dúvidas tivesse sobre
a minha origem, sou indubitavelmente pobre porque gosto de sentir o sabor do
chouriço na carne picada. É de P-O-B-R-E, sublinhava ela bem alto. Não pude
deixar de sorrir ao pensar que há uns anos que não como carne picada com
chouriço. O Sr. Joaquim do talho bem diz que lamenta mas agora as normas de
higiene não permitem misturar o chouriço com a carne, coisas da ASAE, menina,
desculpa-se ele. E desta forma eu, que não quero ser rica mas apenas comer
carne picada com chouriço, dou por mim a subir na minha condição social. Existe
cada vez mais pobreza é certo. Sobretudo a de espirito.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Ir às compras com o miúdo num meio pequeno
É meio caminho
andado para testares o teu à vontade com situações que rapidamente fogem ao teu
controlo e conheceres uma série de pessoas novas. Desde de perguntar ao senhor da secção de frutaria, de forma indignada, porque não
pesa a fruta da mãe (quando a mãe está pacientemente à espera da sua vez), pedir
o pão à senhora da padaria quando estamos na ponta oposta do supermercado, sem
esquecer do fantástico momento em que diz à senhora do lado para ela não levar bananas
que faz mal ao cocó. Se eu podia ir às compras sozinha? Podia. Mas não era a mesma coisa.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
Pensamentos ruminantes #1
Casa para alugar.
Alguns interessados. Ninguém se chega à frente. Não recebo desde Novembro. Projecto
a acabar. Devolver o dinheiro da caução. Pedir, pagar e não bufar o #$%& do
certificado energético. Continuar a pagar casa ao banco. Não recebo desde
Novembro. Projecto a acabar. IMI à porta. IUC também. Continuar a pagar casa ao
banco. Projecto a acabar. Não recebo desde Novembro.
(precisava de uma
almofada fofinha, que a minha não me anda a deixar dormir.)
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
Guardo os sonhos em caixas de papel
Às vezes volto a estas caixas, finamente escolhidas. Coloridas,
pacientemente feitas em tempos de menor turbulência. Tiro-os um a um.
Espalho-os em cima da mesa. Confiro se aparecem as primeiras marcas do tempo. Desdobro-lhes
os cantos enrugados, sacudo o pó e devolvo-lhes as cores. Alguns, poucos, não
voltam às caixas. Tal como nas gavetas, às vezes é preciso deixar espaço vazio
para ocupar, num equilíbrio que se quer são. É por isso que os guardo em caixas
de papel. Nem saberia onde os colocar senão aqui, onde o tempo vai erodindo os
cantos. Para que eu não me esqueça, de vez em quando, de os resgatar à memória.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Sempre do lado errado da barricada
Era uma vez uma
empresa que ia de vento em popa. Os lucros aumentavam todos os anos (embora os
salários nem por isso), investia-se no cumprimento de rigorosos critérios de qualidade,
qualificação de trabalhadores e nos últimos anos até se promoveu a avaliação de
desempenho, a homenagem a trabalhadores com mais anos de casa (uma espécie de diuturnidade)
e até a atribuição do prémio de empregado do mês. As obras surgiam em catadupa e o céu
era o limite no que à ambição dizia respeito. Depois veio a crise e as obras
pararam. Uma série de más opções de estratégia e de gestão ditaram o desfecho.
Salários em atraso e por fim a insolvência, que ainda hoje se arrasta em
tribunal. Cada um pegou no que sabia e podia fazer, nos contactos que dispunha,
na vontade de seguir os seus sonhos e quase todos fizeram-se novamente à
estrada. A maioria emigrou. Destes, a maior parte seguiu para os Palop, Angola
à cabeça. Também eu devo a este país a minha actual fonte de rendimento. Mas a
crise, desta vez petrolífera, voltou a mudar as regras do jogo. E assim, eis
que novamente recomeça tudo outra vez. Salários em atraso, paragem do
investimento, tudo em suspenso à espera de novos dias, que decerto não voltarão nos moldes actuais. E eu, que estou a viver
este filme novamente, dou por mim a pensar até que ponto isto não é sina.
Quantas mais vezes vamos ter de passar por isto? Durante quanto tempo? Como é
que se vive sem a capacidade de fazer planos, porque isso de o futuro estar na
nossa mão e depender inteiramente de nós é muito bonito quando sabemos que no
limite temos com o que sobreviver. Quantas mais vezes vai ser preciso recomeçar
do zero?
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Via Verde ou nem por isso
Não percebo como é
que na era do digital, não consigo alterar uma mísera morada na Via Verde por
telefone. Como é que isto é possível, sobretudo numa empresa que andou na
vanguarda da inovação?! Ó, Xô D. Anna Blue, mas pode fazer isso também através
do nosso serviço Via Verde Fácil. Pois sim. Só me falta é a paciência para
escrever uma carta ou email, a indicar o meu novo nº de telelé, para que depois
me seja enviada uma pass, para eu depois poder registar-me no dito Via Verde
Fácil e conseguir finalmente fazer a bendita alteração de morada. E eu, na minha
santa ignorância volto a perguntar: como é que na altura do digital, em que se
consegue fazer tudo e mais um par de botas na hora pela internet/telefone, eu
não consigo fazer uma simples alteração de morada?! E agora, assim de repente
lembrei-me da Kodak, não sei porquê.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015
2015
Um ano em branco.
365 dias (364 agora) por preencher. Zero resoluções. Será como tiver de ser,
que isto de tentar controlar o que não depende inteiramente de mim gasta mais
energia do que aquela que tenho acumulada. Ficarei feliz se não perder ninguém,
se houver saúde para os que me são próximos e não faltar comida na mesa. O
resto será por navegação à vista, que os mapas estão desactualizados, os gps
também falham e o tempo tão depressa é anticiclónico como surgem centros de
baixas pressões. Dizem que as pessoas mais felizes são aquelas que não tentam
controlar os acontecimentos, que se deixam levar na corrente. Assim sendo,
soltem-se as bóias e as amarras. Let the journey begin.
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