terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Ao ano que fica para trás

Não gostei particularmente de ti. Não me trouxeste o sossego mental que preciso, nem noites calmas e tranquilas de sono. Mas deste-me muitos momentos de introspecção, de perda e de impotência. Levaste-me muitas vezes à beira da loucura, de sentir que estava a um pequeno passo de perder a razão e o discernimento, momentos esses que, de tão intensos, vão ficar para sempre gravados em mim. Mas também me fizeste perceber que, apesar de tudo, ainda consigo manter a capacidade de rir e de me sentir feliz. Tive demonstrações incríveis de amizade e carinho, que aconteceram sem ser planeadas e no momento certo, reacendendo um pouco de mim que estava adormecido. Este foi o ano em que doei a minha farta e longa cabeleira, numa promessa solitária que não partilhei com ninguém. E senti-me um pouco menos triste depois de o fazer, apesar de em nada me atenuar a saudade. O meu filho todos os dias me pergunta se o meu cabelo vai voltar a crescer e eu respondo que sim, mas que vai demorar bastante tempo. O que não lhe digo é que ele marca o ritmo da saudade, que cresce a cada dia que passa. Este foi ano em que mais abracei. E não tendo grandes conquistas para comemorar, então que este ano tenha valido a pena apenas por isso, pelos abraços que dei e recebi. Faltou-me apenas um abraço. Penso nele muitas vezes. Não são raras as ocasiões em que sinto uma grande serenidade e é nessas alturas em que penso que talvez esteja a sentir esse abraço que me faltava. Pelo menos gosto de pensar assim. Agora podes terminar. Não tenho mais nada para te dar, nem espero mais nada de ti. Finda e recomeça. Eu vou fazer o mesmo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Eu bem digo

Que as coisas me acontecem sempre em sequências temporais curtas. Ou não se passa nada, rigorosamente nada, e eu sou muito feliz durante esses períodos de tempo, ou acontece tudo e mais um par de botas ao mesmo tempo.

Pois andando eu ainda a refazer-me psicologicamente do meu encontro imediato com a aranha ENORME, que continua desaparecida algures dentro do volante (e nem quero pensar que ela possa estar noutro sitio qualquer do carro, senão então é que nunca mais lá entro), quando somos brindados com um belo exemplar ratídeo que resolveu mudar-se aqui para casa. Portanto, as noites são passadas em branco, enquanto sua excelência anda pelo telhado e nas paredes, ao mesmo tempo que se tenta explicar a uma criança de 4 anos que não consegue dormir por causa dos barulhos esquisitos (Ò mãe, são monstros assustadores, não são?), que tudo não passa de um gato brincalhão que anda a brincar sozinho, e que não há problema…
E apesar de não nutrir pelos ratos o mesmo medo irracional que tenho por aranhas, ainda assim não deixa de ser extremamente desgastante ouvir a noite toda, o xô doutor a roer sabe-se lá o quê e não puder fazer nada para o impedir. Sim, já está todo um arsenal montado para apanhar o intruso, mas também sei por experiências anteriores que isto pode ser tarefa muito difícil e sem garantias de sucesso.
Eu não sou a cat person, mas talvez tenha de me render a eles…

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Era uma vez…

Uma condutora que pensava que tinha apenas medo de aranhas. Sabia, por experiência, que estes pequenos e encantadores seres de 8 patas, lhe provocavam repulsa e arrepios, e procurava, a todo o custo, evitar encontros imediatos com estes seres tão patuscos do reino animal. Perante situações em que era confrontada com o vislumbre destes seres, saía prontamente pela porta que estivesse mais perto, saltava para o colo de quem estivesse sentado ao seu lado ou simplesmente desatava a correr sem direção definida, descrevendo muitas vezes círculos perfeitos, em perfeito desnorte.

Esta condutora, exímia condutora por sinal, ia em amigável e carinhosa cavaqueira com o seu pequeno príncipe de 4 anos e meio. Era já noite cerrada e um aparatoso acidente levou ao encerramento da estrada que os iria levar a casa e fez com que tivessem de regressar por uma estrada secundária muito pouco iluminada.
A conversa prosseguia para deleite da mãe, que ia concentrada a ouvir as histórias do pequeno petiz. Eis senão quando, pelo canto do olho, esta exímia condutora detecta um movimento suspeito sobre o volante, a escassos centímetros dos seus dedos. Na fração de segundo seguinte, dá-se uma explosão de adrenalina quando reconhece a silhueta inconfundível deste ser de oitos patas, e cuja dimensão das mesmas indiciava ser já de grande porte.
Com admirável destreza, atirou imediatamente o carro para a berma, ao mesmo tempo que acendia a luz do habitáculo. O que viu deixou-a complemente em pânico, mantendo apenas a lucidez suficiente para não desatar a gritar para não amedrontar o petiz. Era uma aranha ENORME com um diâmetro de sensivelmente 6 cm, bem constituída e robusta, que andava também ela em círculos sobre o volante.
Sem armas ou objectividade suficientes para procurar uma forma de se defender de tamanha ameaça, esta exímia condutora não foi capaz de fazer frente à sua terrível inimiga de 8 patas, uma vez que se encontrava quase em perfeito descontrolo emocional. O petiz, que observava curioso a estranha dança que a mãe fazia fora do carro, tentava ajudar “Mãe, eu só sou corajoso com aranhas pequenas… Com aranhas grandes não sou muito valente…”.
Sem discernimento para enfrentar o objecto do seu terror, e que entretanto se escondera algures sob o volante, e sem coragem para voltar a sentar-se no lugar onde momentos antes estivera a centímetros de estabelecer contacto físico com a intrusa octopatuda, a exímia condutora resolveu pedir ajuda ao seu cavaleiro andante, para que a fosse salvar da terrível aranha GIGANTESCA que agora habitava nos confins do volante.
Reza a história que a aranha ainda lá continua, mas apesar de não ter sido novamente avistada, nunca mais a exímia condutora voltou a conduzir aquele carro, para gáudio do seu cavaleiro andante que assim recuperou a posse da jóia da coroa. Apenas se sabe que a exímia condutora tem agora uma certeza: não é medo. É fobia mesmo.
Vitória, vitória, acabou-se a nossa história!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Socorro!

A minha mãe descobriu a internet e o Facebook. Anda possuída a comentar, a colocar gostos como se não houvesse amanhã, a partilhar tudo o que lhe aparece à frente. Já tem 9 amigos. Destes, 5 já querem ser meus amigos também. Liga para o cabeleireiro onde estou a desbastar a minha juba e pede, aflita, para me passarem o telefone. Atendo já em ânsias, coração a mil, é com certeza uma desgraça a caminho. Anna, como é que eu coloco o email aqui numa coisa que me apareceu e que diz que vou receber um Iphone, se responder dentro de 10 minutos?

Medo. Tenho medo. Muito medo…

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Teorias da conspiração

Não sou muito dada a elas, não penso que tudo seja uma farsa montada, mas também me incomoda a forma como as pessoas consideram como verdades universais tudo o que é dito/escrito/publicado quer pelas redes sociais quer pelos mass media. Ouçam, leiam, mas por favor, cruzem informação. Procurem confirmar fontes e dados antes de tomarem como certo aquilo que é repetido. E pensem, antes de o tomarem como certo, quem é que tem interesse no que está a ser veiculado. E porquê.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Verão de São Martinho

Pois parece que brilhei e consegui uma óptima nota, acima das minhas expectativas iniciais. Estou muito feliz!
E aproveitando essa boleia, surgem no horizonte perspectivas de um pequeno trabalho. A ver vamos, como diz o outro. Será que é desta que a minha sorte muda?

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Amanhã, esse grande dia

Em que vai acontecer uma de duas coisas: ou vou estar descontraída e fazer uma boa apresentação  de um trabalho que provavelmente será o derradeiro da minha digníssima e incompreendida carreira académica, ou vou enervar-me, meter os pés pelas mãos, atrapalhar-me com os slides, gaguejar e fazer uma triste figura. Eu, que nem me considero uma pessoa de extremos, tendo a oscilar entre estes pólos no que concerne a apresentações públicas, sobretudo as sujeitas a avaliação. Não há cá tons de cinzentos. Ou brilho ou é constrangedor assistir, por muito que depois me digam que não. Tudo depende do nervómetro.

Portanto amanhã, por esta hora, de uma maneira ou de outra, a coisa está acabada. Espero que com algum brilho…

Epifanias precisam-se


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Albufeira

Já aqui falei disto. As causas são  actuais e conhecidas. Este post também se poderia chamar  Alcântara, Setúbal ou Funchal, ou ...(continuem vocês).

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Doces ou salgadas?

Diz que o PR vai hoje voltar a falar ao país. Até calha bem, que há já muito tempo que não faço pipocas.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A Oeste nada de novo #3

Ainda bem que o Cavaco considera que uma das competências do PR é a promoção da estabilidade governativa. É que olhando para o discurso que proferiu, nem quero imaginar se ele tivesse outra ideia em mente. Afinal, apenas fez o que toda a gente já sabia que iria fazer, mas com mais inépcia, regando bem a coisa com gasolina e deixando o rastilho aceso. Nada de novo, portanto.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Quando pensas que não podes descer mais baixo…

Dás por ti a ver o “Real Housewifes of NY”. Em minha defesa tenho a dizer que estava a passar a ferro, o que transforma qualquer atividade, por mais estúpida que seja, num momento de satisfação, apenas por me afastar dos longos monólogos com a tábua. Mas ainda assim, enfim…

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

E à terceira foi de vez


E foi tão bom!!! Obrigado very very much!

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Retomamos a emissão normal dentro de momentos

Pois parece que, contra as minhas próprias expectativas (sempre achei que iria chegar uma altura em que simplesmente iria constatar que não ia ser possível acabar a tempo), tenho a minha dissertação pronta, já no forno da reprografia a ganhar cor, para ser entregue amanhã, um dia antes do prazo final. Depois vou guardar uma cópia da única edição de autor que farei em toda a minha vida, guarda-la muito bem guardadinha, junto ao diploma de curso, para juntos poderem conversar por toda a eternidade sobre isso de serem uns objectos muito lindos para compor prateleiras.

sábado, 19 de setembro de 2015

Quase, quase, quase, mas mesmo quase a acabar

Só falta a introdução, a conclusão, o abstract, tirar as duas últimas fotografias, formatar, passar quase um terço para anexos, rever,…


(a minha noção de "quase" é muito sui generis, admito) 

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Ave Maria

Ando num limbo de sentimentos. Uma parte de mim está adormecida, calada, quieta. Outra parte em ebulição, desassossegada, desconfortável. Consigo obter alguma serenidade em pequenos momentos que me concedo enquanto fumo um cigarro e deixo o pensamento vaguear. Há pouco, cansada de mais um dia em que pouco acrescentei à vida, derrotada perante mais uma lista de gastos, enquanto fumava o meu cigarro, comecei a ouvir o cântico “Ave Maria”, que começando de mansinho, foi ganhando alento e sonoridade até preencher todo o silêncio da noite. E eu, que nunca encontrei na religião ou na espiritualidade conforto, senti uma grande serenidade interior enquanto ouvia as vozes femininas a cantá-lo. O cigarro acabou e eu continuei ali, no meio do escuro do pátio, balançando na cama de rede enquanto ia ouvindo o coro de vozes. Assim como começou, acabou e eu voltei para dentro de casa. Continua tudo na mesma. Tese por terminar, contas para pagar, futuro sem sorrir. Apenas eu fiquei um pouco mais serena. Talvez deva dar Graças a Maria por isso.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Há festa no condomínio

Vou reunir com os meus inquilinos, ambos os inquilinos de cima, mais os respetivos proprietários e o perito do seguro. Estou aqui indecisa entre levar cerveja e tremoços ou se visto uma armadura de combate.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Vou jogar no euromilhões

- máquina da loiça com distúrbios de personalidade e pensa que é um repuxo de jardim;
- Candeeiro de tecto que pensa que é fonte e pinga abundantemente;
- parquet em 3D
- casa em curto-circuito e sem luz;
- vizinhos de cima negam responsabilidades. Sim, claro, a água sobe por capilaridade, obviamente.
- toma lá uma otite para não dizeres que te dói só a alma;
- tudo no espaço de dois dias que é para não dizeres que é sempre ao mesmo tempo;

Cansei…

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

(...)

Tento não pensar muito na morte. Não penso muito na minha, muito menos na do meu filho, embora me vá mentalizando para a dos meus pais. Porque é essa a lógica normal. Primeiro vão os pais. Depois os filhos. O entretanto é para ser vivido e sobretudo sentido, abraçado, beijado, amado. Algumas palavras, poucas, fazem tanto sentido como um abraço apertado. No fim, acho que não me irei arrepender do que não disse, eu não digo muita coisa que valha a pena guardar, mas irei sentir sempre a falta de não ter falado por abraços, ou por momentos de silêncio em que palavras eram desnecessárias, e por serem desnecessárias, se ditas seriam banalidades, vazias. E é isto que me está a consumir. Faltou-me o abraço. Algures no tempo não cheguei a dar aquele abraço. Ficou no ar o “até já”. Um até já que vai ser tão longo como a minha vida inteira. Um até já porque era assim que querias que fosse. E, perante a tua grandeza, nada mais me resta, a não ser guardar o abraço que não te dei e imaginar-te a chamares-me de tonta.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O universo é pequeno demais

Ajoelhei-me à sua frente para ficar à altura dos seus olhos. Ia preparar-me para lhe explicar que naquela noite teria de ficar a dormir em casa dos avós, coisa que, já tendo sido abordada no passado, tinha recusado sempre. Mas antes sequer que começasse, pergunta:
- Mãe, porque estás assim vestida?
- Estou vestida de cores escuras porque estou triste.
- Porque estás triste?
- Porque perdi uma amiga de quem gostava muito.
- Porquê?
- Porque ela partiu para muito longe e eu já não vou poder voltar a vê-la.
Nisto, resolve abraçar-me enquanto me segreda ao ouvido
- Não te preocupes, mamã. Eu vou sempre, sempre, teu amigo. Não fiques triste…

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

E por falar em novidade no Oeste

Preciso de chegar à fala com uma alta personalidade do executivo municipal. Estamos em pleno Agosto. Já me mudaram 3 vezes de extensão e já fiz um email fundamentar o pedido, incluindo as questões que quero debater. Gostava de mudar a ideia que tenho quanto ao atendimento municipal. Gostava mesmo muito, mas para já não vejo absolutamente melhorias nenhumas… Mas, lá está, eu ainda acredito (às vezes) no Pai Natal.

A Oeste nada de novo #2

Uma pessoa anda a ser melgada para ir ver os Mínimos. Tudo certo. A ida ao cinema pela primeira vez andava na calha há já algum tempo, aguardando apenas que a combinação “filme giro + bom comportamento + interesse manifestado pelo petiz” acontecesse em simultâneo. Depois de várias falsas partidas, eis que se marca a mítica estreia cinéfila do puto e concretiza-se a aventura.
No fim, depois de uma inédita saída em que não houve nada, zero reparos a fazer no que ao comportamento diz respeito, deixando a minha alma perplexa e convicta que tínhamos estado perante um momento histórico na nossa vida familiar, resolvo perguntar-lhe se tinha gostado do filme e qual tinha sido a parte mais gira.
Sim, gostei mesmo muito do filme. A parte que gostei mais foi da ovelha choné…Mãe, viste como eles fugiam para a cidade. Muito fixe!!
Este miúdo nunca desilude... Voltamos a tentar em Setembro, portanto.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O cúmulo da procrastinação

Ficar à janela a cronometrar o intervalo de tempo entre descolagens dos aviões.
(mudar de poiso não está a ajudar...)

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Outro peditório

Esta tese, mesmo que não seja concluída em tempo útil, foi decisiva para fechar um capítulo de vida. Depois desta saga dou por encerrada a minha vida académica, pelo menos no que a títulos diz respeito. Há um (dois?) ano(s) atrás, embalada por uma média elevada na parte curricular, ainda ponderei apostar num doutoramento. Agora só me dá vontade de rir quando penso nisso. Sou uma tonta. Se há coisa que a vida me tem ensinado é que há alturas em que é preciso deixar de bater com a cabeça na parede e aceitar que se calhar o caminho não é por aí. E o meu caminho não é por aqui. Falta-me a paixão, o entusiasmo para tentar fazer mais e melhor. Mas espera lá, Anna! Ainda há meia dúzia de post atrás dizias que não te arrependias de ter escolhido este caminho e agora estás com esta conversa? Vamos por partes. Adorei contactar com um conjunto de pessoas que tiveram a paciência e simpatia para me aturar, que perderam o seu tempo a conversar comigo. Isso, para quem não é propriamente uma tagarela, foi maravilhoso e serviu para me atirar para bem longe da minha zona de conforto. E senti-me algo especial por poder testemunhar pedaços de histórias de vida que me sensibilizaram. Pelo valor que dou a esses momentos, sim, não me arrependo de ter optado por fazer esta dissertação. Mas todo o processo de verter para o papel, com detalhe e rigor, toda a informação que entretanto se entranhou, solidificou, está a ser um parto muito difícil. Facilmente perco a meada entre o que é meu e o que li de outros, as fronteiras esbatem-se, misturam-se. Para mim isto é que é aprender. E eu gosto de aprender, de alargar horizontes, pensar em coisas que são novas para mim e desenvolver algum sentido crítico, mas depois há A tese. Com todo o formalismo, formatação, citações, fontes e … e eu já não tenho paciência para ir ver onde é que termina o que bebi de outros e onde começa o que é meu. E é aqui que eu constato que definitivamente não me vejo a fazer isto novamente ou em moldes quotidianos. Falta-me a arte, o engenho e sobretudo a paciência. Vamos ver se esta dissertação chega a bom porto. Mas mesmo que chegue, o próximo rumo será definitivamente diferente.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Constatações #4

O meu poder de síntese é inversamente proporcional ao meu cansaço.
(Já o stress costuma contribuir para aumentar o meu poder de síntese. Talvez não fosse mal pensado ir dormir e acordar lá para Setembro.)

O nirvana educacional

Normalmente durante as conversas em que o tema é enumerar os talentos dos filhos, fico calada. O meu filho tem 4 anos e ainda é trapalhão a falar. Não fala inglês, embora por vezes ainda se expresse em dialectos fantástico-incompreensíveis. Quando é para correr, fica sentado. Quando é para sentar, desata a correr. Só conhece os números até ao 10, sendo que não há vida para além do 20. Anda na natação e o que faz de melhor é chapinhar na água, embora seja muito bom a molhar toda a gente. Não sabe ler, não conhece as letras, nem escrever o seu nome. Também não faz desenhos lindos, nem pinta dentro do contorno. Tanto mundo lá fora à espreita e o raio do miúdo ainda não descobriu algo que me faça brilhar como mãe nessas conversas de recreio parentais, sendo que, obviamente, serei tanto melhor mãe, quantos mais talentoso o meu filho for. Contudo, tudo mudou desde ontem. Agora sim. Posso entrar de peito feito nas conversas sobre “o meu filho é híper-super-mega-especial. Sou mesmo uma mãe cheia de sorte por ter um filho tão precoce”. Descobri que o meu filho consegue matar moscas com um martelo pequenino. Tanto adulto que não consegue com um mata-moscas normal e ele, com apenas 4 anos, mata as moscas à primeira tentativa com um martelito com um diâmetro de uma moeda de 1 euro. É o céu. O nirvana. Agora já posso deixar as janelas abertas.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Acho que também vou iniciar uma rúbrica nova


Casa alugada a um casal pré-sénior. Num mês já falei mais vezes com eles do que com os meus próprios pais. E já fui mais vezes lá a casa do que no conjunto total de anos que tenho a casa alugada. Primeiro era o esquentador que estava avariado e que não funcionava. Mas já experimentou trocar as pilhas? Quais pilhas? As pilhas que accionam a chama. Ah, não vejo. Onde está? Ao lado da chama. Como é que se abre? É só puxar pela lingueta. Ah! Vou experimentar.( Era falta de pilhas)
Depois foi a máquina de lavar roupa. Ò Anna, a máquina de lavar roupa está avariada. Não faz descarga da água. É melhor chamar cá alguém. Mas aconteceu alguma coisa durante o programa? Não… quer dizer, eu mudei o programa a meio, apenas. Humm… olhe, faça um programa normal outra vez e se continuar a acontecer, diga. (A máquina tem menos de um ano e funciona na perfeição)
E a de hoje: Anna, estamos sem luz em casa. Todos os vizinhos têm luz, menos nós. Já foi ver o quadro? Se calhar tinham muita coisa ligada e o quadro disparou. Já fomos ver. Os disjuntores estão todos para cima. E o quadro? Não tem nenhum botão saído? Qual botão? O que está do lado esquerdo do quadro. Se estiver saído, carregue para dentro. Ah, vou ver e já lhe ligo. Meia hora (meia hora!!) depois mandou uma sms a dizer já tinha conseguido pôr o botão bem e que já tinham luz.
Começo a pensar em vez de ter resolvido um problema com o aluguer da casa, arranjei vários e muita sarna para me coçar.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Perdidos

Perdi 2 kg. Se alguém os encontrar, por favor, não os devolva.

(faltam só mais 10...)

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Não tem preço

Ouvir uma “jovem” de 81 anos a falar das suas memórias e contar-me histórias sobre os teares de família os quais ainda hoje utiliza para fazer peças de tecelagem e que já vinham dos seus bisavós.

Encontrar pessoas que já tinha inquirido há mais de um ano e perceber que não só continuo nas suas memórias mas também sou alvo da sua simpatia e amizade.

Perceber que isto do património imaterial é algo que toca muito mais fundo às pessoas que ainda detêm estes saberes e que extravasa em muito tudo aquilo que fica documentado. E com isto perceber que tudo o que possa vir a concluir nesta malfada tese, ficará sempre muito aquém porque é-me impossível verter para o papel todos os sentimentos e memórias que emolduram a herança viva que estas pessoas transportam.

Sentir-me pequenina face à riqueza cultural que estes artesãos possuem, em particular dos mais idosos, e à sua dedicação em manter vivas tradições ancestrais, muitos deles em condições financeiras e de saúde extremamente difíceis.

Não sei se vou conseguir acabar a tese a tempo, mas mesmo que não o consiga, de uma coisa tenho eu a certeza: não me arrependo de ter escolhido este caminho. A riqueza destas gentes é incalculável e eu adorei poder conhecê-las um pouco mais e de viva voz. Tudo o que escreva sobre isto será sempre pouco, insipiente e incompleto. E eu, bicho-do-mato e normalmente pouco à vontade nestas coisas de interpelar os outros, transfigurei-me por completo com estas gentes, tal foi a empatia que senti. Não tem preço. Nem palavras.  

quinta-feira, 16 de julho de 2015

À consideração do São Pedro

Agradeço a manutenção do risco de incêndio em níveis baixos, por conta da neblina matinal e de fim de tarde. Tenha lá atenção com a Nortada que, parecendo que não, não só incomoda como dificulta em caso de incêndio. Dizem os entendidos que a coisa normalmente tende a melhorar em Agosto, mas eu gosto é do Verão em modo contínuo, e o turismo também agradece, até porque o infantário encerra e gostaria de levar o puto à praia sem correr o risco de o trazer para casa em formato cubo de gelo. Já sei que poderia ter pensado nisso antes de escolher viver aqui, mas eu gosto de sítios com personalidade torta e já que é para pedir, então que seja em grande. Portanto, mande lá vir um Verão em condições que a malta quer é calor e sol.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Cúmulo do optimismo

Achar que vou conseguir terminar a tese a tempo, quando faltam apenas 2 meses e meio para o fim do prazo, ainda só tenho cerca de 30% feito e o meu orientador já nem me responde aos emails.

Última hora

As rondas de conversações entre Anna Blue e a Balança terminaram com uma troca desagradável de acusações, tendo culminado um corte bilateral de relações. Em declarações ao espelho, Anna Blue afirmou terem sido ultrapassados todos os limites que possibilitariam o regresso à mesa de negociações. A Balança por sua vez declarou não ser mais possível esconder o excesso de peso, apesar das inúmeras tentativas de pressão por parte de Anna Blue para alterar de forma ilegal os valores apresentados. Após a reunião, que demorou 5 minutos, Anna Blue decidiu adoptar um novo pacote de medidas de austeridade alimentar, com efeitos imediatos e desenvolver uma agenda desportiva diária. A nova ronda de conversações ficou agendada para o início da próxima semana, a fim de avaliar os progressos alcançados.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Bluexit

Saindo devagarinho do modo "férias"…

domingo, 28 de junho de 2015

Dias azuis II

Nem sei do que vou ter mais saudades: se da interacção forçada com outros pais (já confraternizamos com gente da Moita, do Barreiro e do Algoz), se das manhãs passadas a ir pescá-lo das ondas, bem como tudo o que é balde, regador e pás, nossos e alheios, ou de estar de sentinela às construções dos outros putos dada a sua predileção por destruir tudo o que tem mais de 10 cm de altura.
coisas que, não só não mudam, como ainda se refinam com o tempo. Quando é que eles começam a acalmar, mesmo?

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Dias azuis I

Quis o acaso que tivesse sangue árabe a correr-me nas veias. A ele devo provavelmente o gosto pelo calor e pelos dias de verão, a preferência pelas ervas aromáticas em detrimento dos molhos, a assimilação fácil dos sotaques do sul em vez da dicção mais politicamente correcta da capital. Há alguns dias atrás disseram-me que pensavam que eu era alentejana ou algarvia. Assim fiquei a saber que, para além do coração árabe, transporto também expressões próprias do sul e nunca me tinha dado conta. Vou ao mercado em busca de tomilho e dizem-me que não têm, apenas carqueja e poejo. E eu trago carqueja e poejo. Não sei que vai ficar bem na carne, mas lembro-me que a minha avó tinha sempre carqueja e poejo em casa. Dou-me igualmente conta que há coisas que mudaram. As velhotas já não se sentam à soleira ao fim do dia a ver quem passa e a maioria das casas aqui da rua está hoje abandonada. Passo por elas e ainda me lembro dos nomes de quem lá viveu. A casa no Monte Costa está agora completamente envolta em silvas e abelhas. Já não consigo lá entrar. Ainda assim vou espreita-la a amiúde, numa espécie de peregrinação que só eu entendo. O resto fica guardado na minha memória. Talvez um dia o meu filho herde também o gosto por esta herança imaterial, por este património familiar que não voltará a acontecer. Ou não. Mas enquanto aqui estamos dou por mim a contar-lhe histórias que sei que ainda não entende. Tenho consciência disso, mas sei que alguma coisa ele irá guardar. Nem que seja o cheiro a carqueja. Ou a lembrança da temperatura da água do mar. Ou do calor tórrido que corre por este serro abaixo e nos queima a pele ao chegar. Um dia ele saberá por que razão a mãe retorna sempre a um ou dois sítios perdidos no meio da serra, por que insiste em regressar aqui onde os dias são azuis, mesmo em pleno Inverno. Aqui sinto-me em casa.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Constatações #3

O mercado de arrendamento é um mundo louco. A vida está cara. Para todos. Manter um imóvel em condições implica investir na sua manutenção. Há IMI, seguros e condomínio para pagar, sem falar na prestação bancária de quem ainda o deve ao banco. Se um imóvel está bem cuidado, mobilado e pintado não pode valer o mesmo que um que esteja a necessitar de intervenção e por mobilar. Quando se assume que o valor é negociável, isso quer dizer que se pode baixar um pouco o valor da renda mas não que esta seja metade do inicialmente proposto. Mas há quem não entenda isso e considere que os proprietários devem ser a Santa Casa da Misericórdia e contribuir para um mundo melhor, arrendando pelo preço que o potencial inquilino está disposto a pagar, mesmo que isso seja um valor anedótico. Quando a contraproposta é recusada ainda questionam o porquê, mandam emails e batem à porta das restantes imobiliárias onde a casa está em montra. Há ainda quem negoceie o arrendamento para depois subalugar, achando que num meio pequeno onde toooooooooooda a gente se conhece isso nunca viria a saber-se. Sem esquecer ainda os que não têm rendimentos, nem dinheiro para a renda de caução nem fiadores mas ainda assim dizem que vão conseguir pagar e ficam ofendidos quando são recusados. Ok. Ingénua, mas não tanto. E ainda estrabucham e são mal-educados. Depois de 5 meses com a casa para alugar chego à conclusão que existe gente muito descompensada por aí. E uma grande parte dela está a tentar alugar casa.

Loud places

 
Eu também preciso deles com a mesma cadência que preciso dos silêncios. São as duas faces da mesma moeda.

Cúmulo da ingenuidade

Mentirem-te descaradamente e tu não só não percebes como ainda te ofereces para ajudar.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Dos reencontros

Pegar nas palavras escritas e esquecidas e nas lembranças de outros tempos. Limpar-lhes o pó e colocá-las ao sol a esvoaçar. Deixar que voltem a nós mais uma vez, e outra e outra. Regressar ao lugares de memória, podando a nostalgia e deixando apenas ficar a essência que deu origem à escrita. Há momentos cujo porquê já esqueci. Outros há em que ainda lhes sinto o cheiro. E depois há surpresas escondidas que permitem um reencontro com outras palavras e sentidos alheios. Formas de estar e de sentir, pequenas histórias de vida com magia dentro. E, sem andar à procura, mas feliz por ter tropeçado naquele detalhe, fico agora sem saber se celebro a alegria deste reencontro sozinha ou se timidamente lhe digo que estou feliz por a ter reencontrado, porque afinal ainda sinto o cheiro da magia das suas palavras. A vida muda, as pessoas mudam, a escrita muda. A empatia não. A minha pelo menos.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Note to self

Usar um funil da próxima vez que encher a almotolia.

O estigma do desempregado

A propósito de comentários que tenho vindo a colecionar, chego à conclusão que uma pessoa que se encontre desempregada não pode:
1. andar bem arranjada. Isto inclui pintar o cabelo e arranjar as unhas. Dado que não tem rendimentos, deve por isso viver de acordo com essa condição. Deve deixar crescer as raízes, lavar o cabelo apenas uma vez por semana e usar sempre calças de fato de treino e t-shirts largueironas. Parece que a única razão pela qual as pessoas se vestem decentemente é apenas para irem trabalhar.
2.  ir ao café ou sair de casa. Sair e ir beber um café é um acto que só está reservado a quem trabalha e ganha um salário, pois basta colocar o pé fora de casa para estar sujeita à condenação da comunidade.
3. ter qualquer tipo de vida social. Se está desempregada deve viver enclausurada em casa e carpir a sua condição de desempregada até ao limite.
4.  ser sorridente ou bem disposta. Deve comportar-se de forma depressiva e expor as suas dificuldades a quem com ela se cruze, não deixando margens para dúvidas que vive de forma miserável.
Nos pontos anteriores há algum exagero, é certo. Mas vivendo numa comunidade pequena, e que muitas vezes se equipara a um regresso ao recreio escolar, há olhares e expressões que, apesar de não serem verbalizados, deixam transparecer este tipo de pensamento. E, infelizmente, há outros que chegam mesmo a ver a luz do dia e que validam os pontos anteriores. Não é fácil viver sem saber o que o dia de amanhã trará e requer força de vontade não deixar o pessimismo tomar conta do dia-a-dia. Não demonstrar a angústia sobre a incerteza do futuro não faz de mim melhor pessoa, embora seja mais agradável para quem comigo priva. Mas perante estes pequenos episódios que vou registando, fico a pensar que vivo/vivemos num mundo muito pequenino, onde se categorizam as pessoas apenas com base na sua situação profissional e pelo que exteriorizam. Nada de novo, portanto. Continuamos, como sempre, a viver de aparências.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Oiço vozes

Desta vez é a sério. É hoje que eu vou pegar na minha tese e refazer tudo. A sério! Não, não, é só mais uns minutos, estou aqui a ver uma coisa na net e vou já de seguida. Espera, deixa lá só espreitar mais isto. Eh pá, deslarga! Eu preciso só de encher a cabeça com lixo cibernético para depois estar mais motivada para esmiuçar aqueles artigos, não entendes? Sim, sim, já vou, já vou… Fónix!!! é já quase uma da tarde e não me disseste nada?! Porra, não se pode confiar em ninguém, nem mesmo na própria consciência… Olha, vou fazer o almoço e depois pego nisso. Eh, pá deixa-me da mão, já disse!

(Santa Engrácia devia ser a padroeira dos alunos de mestrado)

terça-feira, 9 de junho de 2015

Pergunta para queijo #2

Perante a possibilidade de ter de obrigatoriamente reduzir a actividade física do miúdo, eu pergunto: e onde é que se tiram as pilhas?

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Três em um

1. Deixei de poder estacionar o carro em frente a casa. Tenho um monte de calhaus da calçada no lugar do carro.
2. Por indicação médica vou ter de dar doses cavalares de praia ao puto (oh, que chatice!)
3. Há quem sonhe com Lamborghinis roxos. Eu tenho pesadelos com a minha tese. Aliás, toda ela é um pesadelo. Limito-me a reviver o meu dia-a-dia durante a noite.
Num mundo perfeito eu levaria o puto à praia e, enquanto ele brincaria sossegadamente à beira da água, eu conseguiria avançar alguma coisa na dita. Da próxima vez que eu pensar em voltar a estudar, internem-me por favor.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Live report from ruralidade

Estão a fazer uma intervenção às condutas de água aqui na rua. Tenho vista para a retroescavadora que está a milímetros da parede da casa. Abriram uma vala em frente à minha porta e depositaram o monte de escombros carinhosamente ao lado. Fui à pressa tirar o carro enquanto ainda se conseguia circular. Estão 5 marmanjos a mandar vir uns com os outros há mais de 1 hora e corre água a rodos. Não sei se quero ver o resultado final da intervenção…

Rota das Consultas (em elaboração)

Distância: cerca de 1500 metros. Pode aumentar dependendo do número de ramais percorridos, alguns de forma recorrente.

Duração: variável. Usualmente não menos de 2h.

Tipo de percurso: circular, linear, triangular, hexagonal, outros não especificados.

Altitude máxima: depende do número de cadeiras empilháveis na sala de espera.

Grau de dificuldade: adversidade do meio = 3; Orientação=4; Tipo de piso =2; Esforço físico=5

Ponto de partida e de chegada: parque de estacionamento da unidade de saúde.

Pontos de interesse: recepção, sala de espera, consultório, gabinete de exames, parque de estacionamento.

Época aconselhada: todo o ano. Com condições meteorológicas adversas aconselha-se o uso de vestuário e calçado adequado (solas com elevado nível de aderência).

Descrição: a Rota das Consultas é um percurso misto (linear, circular, outros) que liga as várias unidades de saúde que constam do programa mais extenso delineado pela pediatra. Desta forma a Rota das Consultas pode ser percorrida em várias etapas sendo constituída pelo PR1 - Consulta de Pediatria, PR2 - A Magia da colheita de sangue e de urina, PR3 - Consulta de Otorrino, PR4 - Na Senda do Timpanograma, PR5 - A Conquista do Audiograma. A partir deste último existe ligação ao PR1.

Esta é uma rota única, que permite aos participantes elevar de forma sustentada os seus níveis de stress, uma vez que a criança, extremamente activa por sinal, passa imenso tempo em espaços fechados, sem grandes distrações. A tranquilidade da colheita de sangue e urina é apenas interrompida pelos gritos e tentativas de fuga do menor, prontamente controladas pelos progenitores e alguns prestadores de cuidados.

Actualmente estão a decorrer ainda os trabalhos de marcação e sinalética dos PR3, PR4 e PR5 (descrição destes percursos disponível em breve)

No fim da rota espera-vos um possível diagnóstico, uma melhoria significativa da condição física do menor e decisão quanto ao próximo caminho a percorrer.

À terceira é de vez?



Esperemos que seja desta.

sábado, 30 de maio de 2015

Tão bom!

Fazer uma maluqueira, só porque sim. Mandar tudo às urtigas, não ter plano B e não me ralar nada com isso. Seguir apenas a vontade de o fazer, não importa o resto.
Há tanto tempo que eu não soltava as amarras assim...

sexta-feira, 29 de maio de 2015

É para ficarmos optimistas?

“Lembra-se da última vez que a economia portuguesa cresceu seis trimestres seguidos?” Sim, sim… estou aqui que nem posso, a dar pulos de contente. Mal posso esperar pela saída da Grécia do euro.

Coisas que me fazem soltar verborreia ofensiva

Limpar o pátio a preceito, com direito a dores musculares em sítios onde eu já nem me lembrava que tinha músculo, e depois vir a nortada e deixar quase tudo na mesma. Eh pá, que fixe. Pena que a minha queridíssima vizinha, proprietária da nogueira que me conspurca o pátio o ano inteiro, não me tenha encontrado hoje. É que ela julga que me faz um grande favor em manter a nogueira. Só.Que.Não. Tanto vendaval, tanta tempestade, tanto raio e não há nenhum que caia em cima da dita (nogueira). A árvore está podre, a cada Inverno que passa, caiem troncos que dá para alimentar a lareira mais do que um dia, as nozes não prestam ou têm bicho e ainda serve de passagem para os ratos subirem ao telhado, sem esquecer as sementes que enchem tudo de pó na Primavera e as folhas ao longo do ano, em especial no Outono. Ai que giro, Anna! Tens uma nogueira que te dá sombra! Olha, por falar em sombra, sabes onde punha eu a nogueira? Sabes?

É isso mesmo.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

(In) Fertilidade

Mais uma vez vejo-me confrontada com a minha memória selectiva. Foi um processo longo e emocionalmente desgastante, porque no decurso de cada tratamento que se faz, constroem-se sonhos, vive-se um estado de pseudo-gravidez com tudo o que isso implica. Na realidade, aqueles dias, semanas de espera são vividos num equilíbrio precário entre alimentar as expectativas ou racionalizar o possível insucesso do tratamento, tudo isto no meio de um cocktail de hormonas que nos deixam física e psicologicamente à beira da loucura. A TPM é para meninos. O mundo gira à volta de horários, injecções, ecografias, consultas. É impossível manter uma aparente normalidade e é por isso que as pessoas bem-intencionadas, que nos aconselham para não stressar, recebem muitas vezes um olhar assassino. Não é por mal, mas esse é um discurso perfeitamente desnecessário. Se querem ser solidárias, digam tudo menos isso. Se eu tivesse recebido um euro por cada vez que alguém me disse para relaxar, estaria rica. Ok, não rica, mas dava para uma bela mariscada em família. Talvez por essa razão acabei por ser uma espécie de porto de abrigo para alguém que está a passar por isso pela primeira vez. As perguntas foram muitas e eu dei por mim a constatar que recalquei, esqueci, apaguei a maior parte dos detalhes do processo. O puto nasceu e eu fiz um reset. É como se não quisesse voltar a ser confrontada com a angústia da incerteza. Contudo, acompanhar esta 1ª viagem de alguém, foi apaziguador. Os fantasmas afinal não metem assim tanto medo. Mais uma gaveta arrumada. E ainda bem, porque tudo indica que esta viagem terá um final feliz e eu sinto-me grata por participar nela desde o início.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

A idade dos porquês no rescaldo da ida ao Jardim Zoológico.

Mãe, estou triste… Não vi dinossauros.
Isso é porque os dinossauros já não existem, apenas nos desenhos animados.
Mas porquê?  
Porque eram muito grandes e depois faltou comida.
E porque faltou comida?
Porque houve uma altura há muito, muito, muito tempo atrás em que a noite foi muito longa e depois não crescia comida para eles.
E porquê que a noite foi longa?
Humm…Um dia vais perceber melhor.
Mãe?...
Sim?
Amanhã faz dia?
Sim, amanhã há dia…
E os dinossauros vão voltar?
Não, os dinossauros não vão voltar.
Porquê?

(…)

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Anna Blue a caminho do estrelato

A propósito do Dia da Mãe, fui apanhada numa aula de Zumba à qual não podia escapar. Ora acontece que a minha habilidade nestas coisas de danças em grupo é semelhante à graciosidade de um elefante numa loja de porcelanas. Toda eu sou (des)coordenação motora e (falta de) ritmo. Mas os olhos contentes do puto ao observar-me, feliz por me ver ali, deitaram por terra a minha relutância em participar. E assim, imbuída de uma capa de coragem, dei o corpo ao manifesto e resolvi disparar braços e pernas (e pedidos de desculpas) em todas as direcções. Não, não foi bonito de se ver. E espero, sinceramente, neste momento não fazer parte de nenhum vídeo viral daqueles que pululam a internet ao som de gargalhadas de fundo. A coisa passou-se e eu dei por encerrado o episódio caricato. Qual não é o meu espanto quando uns dias depois abro o facebook e tenho resmas, paletes de pedidos de amizade. Todos de pessoas que tiveram a infelicidade de ver o meu show. Vou considerar que esta onda de popularidade se deve simplesmente ao meu charme natural e que não tem nada a ver com o facto de eu ter dado nas vistas com os meus dotes dançarinos. Vamos pensar que sim.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Out of the blue

Recebo um pedido de conexão no LinkedIn de alguém aqui dos blogues. Não faço a menor ideia por que razão esta pessoa me quer adicionar, tanto mais que não temos conexões em comum, nem nos movemos nas mesmas áreas profissionais. O mundo é uma ervilha. Dou por mim a matutar que na realidade somos apenas meia dúzia e por isso acabamos a esbarrar nas mesmas coisas, nas mesmas pessoas, nos mesmos sítios. E não deixo de pensar que sei mais sobre esta pessoa do que ela sabe sobre mim, o que não deixa de ser curioso numa altura em que a protecção de identidade é um dos temas quentes aqui no recreio a que chamamos blogosfera. E é por isso que, apesar de ir escrevendo o que me dá na real gana, não deixo de colocar sempre um filtro no aqui fica escrito.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Azimute Sul

E de repente, dás-te conta que há imenso tempo que não vais à capital. Meses. Mais de seis, pelo menos. E sentes uma grande leveza por isso. De tal forma que dás por ti a pensar que provavelmente já nem sabes conduzir no meio de tanta confusão. Longe vão os dias em que diariamente perdia tempos infinitos, parada no trânsito ou à espera de transporte e aproveitava para contemplar as últimas tendências (ou não) da moda com quem comigo se cruzava. Conhecia os atalhos que me eram úteis, os lugares que a Emel ainda não tinha taxado e até um ou outro arrumador de serviço. Sentia que conhecia o burburinho da cidade, aquela cadência de barulho. Lembro-me de perceber uma certa agitação no ar em dias mais mediáticos e isso fazia-me sentir parte da mol urbana. A minha vida agora é outra. Centra-se aqui, onde estou, longe da confusão, num ambiente que eu apelidei de ruralidade. Por opção, foi aqui que escolhi ficar. Aqui onde ainda há ovelhas a pastar, que me acordam de manhã com o seu balir, onde os senhores usam boina e as senhoras vão às compras de bibe. Aqui acostumei-me a deixar de ser a Anna para passar a ser a mãe do meu filho. Poucos sabem como me chamo, mas perguntam-me sempre pelo menino. Eu, que sempre quis ser anónima, sou por demais conhecida neste meio pequeno, e isso traduz-se num certo sentimento de pertença ao qual eu me julgava imune. Hoje fui desafiada para voltar à cidade por uma noite. Tertúlia no feminino. Não há como recusar. E é neste ponto que me apercebo que há tanto tempo que não rumo à cidade que desconfio que vou ter de usar o GPS. A Catarina que me indique o caminho que eu já perdi os meus mapas mentais. Ou apenas os tenha transformado noutros, mais distorcidos, esfumados pelo tempo. Sabe bem regressar e respirar outros ambientes. Sair da toca, ver outras cores, outros mundos. Mas sabe-me ainda melhor perceber que me sinto bem aqui. Somos criaturas de hábitos, sobretudo aqueles que nos ficam bem na pele.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

A nobre arte da paciência #2

Preciso de ir novamente imprimir uma página à papelaria da aqui da ruralidade. Desta vez vou levar o ficheiro em pdf. Aceitam-se apostas para o tempo que vou demorar.

Por vias das dúvidas já coloquei a página a p/b.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Deste cansaço que não tem fim…

Nesta longa cadeia de acontecimentos que parece não ter fim, dou por mim sem saber para que lado ir, que opções tomar, com pouca convicção que o que quer que almeje, sonhe ou empreenda venha a correr bem. Nem sei bem quando é que deixei de acreditar que as coisas podem dar certo. Sou de colocar as raízes no chão e deixar voar as folhas e as sementes ao sabor do vento, mas à medida que as tempestades passam por mim a uma cadência mais rápida que a minha capacidade de regeneração, dou por mim a baloiçar cada vez mais, com cada vez menos certezas se as opções a tomar são certas ou se ainda me trarão mais amargos de boca. Sinto-me cansada, gostava que o mundo, as preocupações e todas as restantes urgências parassem por um tempo. Apenas o tempo suficiente para poder voltar a assentar as minhas raízes, descansar as pernas e voltar a desenhar sonhos. Mais triste do que não ter sonhos é sentir que estamos a perder a vontade de os criar sequer. Talvez mais tarde eu olhe para trás e veja que esta foi apenas uma fase muito má. Talvez volte a sonhar e a apreciar o tempo a passar devagar. Mas agora, e cada vez mais, o que me domina é este cansaço, este peso nos ombros, esta falta de vontade de sorrir e de olhar para o futuro de forma despreocupada e simples. Preciso novamente de tomar opções, de decidir rumos de vida e, se até aqui fui conseguindo levar a coisa com optimismo, neste momento não faço a mínima ideia de qual será o melhor rumo. A não ser que tenho forçosamente de tomar um. E rápido. E sinto as pernas tão cansadas…

domingo, 15 de março de 2015

Desta parentalidade que não é minha

Mais do que as palavras falam os gestos. Mais do que os gestos, a ausência deles.

sábado, 14 de março de 2015

Copo meio cheio

Perdi 2 kg sem fazer nada por isso.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Atendendo ao estado geral das coisas

E ao rumo da minha vida em particular, não sei se será prudente pôr o pé fora de casa hoje.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Das coisas que nos tocam

Alguém que nunca vimos pessoalmente e apercebendo-se que tenho o meu filho doente, nos diz que vai correr tudo bem e nos engloba nas suas preces.

terça-feira, 10 de março de 2015

A vida, essa comediante motivacional

Poderia falar de como fiquei empanada com o carro. Ou de ter partido um dente. Ou de ter provavelmente apanhado uma multa, isto apenas nas últimas 24h. A continuar assim talvez seja melhor enfiar a cabeça debaixo da almofada, a tal que não me deixa dormir, e esperar que esta onda de azar se vá embora. Ou ir à bruxa, já nem sei. Vou só ali apanhar um bocadinho de ar (e esperar que não me caia nada em cima) e já volto. Ou não.

sexta-feira, 6 de março de 2015

A nobre arte da paciência

Levarem meia hora para me imprimirem duas folhas em word na única papelaria, aqui da ruralidade, que faz impressões. Meia hora. Trinta longos minutos. Aparentemente a culpa foi minha que não coloquei os ficheiros em pdf. Sim, a vida na ruralidade pode ser extremamente relaxante e bucólica, desde que utilizem o formato certo. Ou tenham uma impressora que funcione.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Os passos da imperfeição

Eu não sei o que vai na cabeça dos políticos. Como é que alguém, da esquerda à direita, pode sequer pensar em chegar a primeiro-ministro e não fazer o simples exercício de rever e rectificar todas as situações que sejam “imperfeitas” em termos fiscais? Como é que neste contexto específico de crise, em que tanta, mas tanta gente faz o impossível para atingir a perfeição fiscal (e nem sequer me vou alongar sobre a carga estupidamente pesada de impostos que todos nós pagamos, nem no dever enquanto cidadãos contribuintes de honrar as nossas obrigações) e aquele que deve estar acima de qualquer suspeita, não nos honra com o cumprimento cabal das suas obrigações contributivas? Como é que é possível ser-se tão imperfeito intelectualmente para não considerar que, a partir do momento que se é eleito para um cargo de topo no governo de uma nação, toda a sua vida fiscal e profissional será alvo de análise? Eu estou para lá de estupefacta. Que estamos entregues a uma corja de sanguessugas de privilégios próprios já se sabe há muito, mas a falta de visão de uma coisa tão simples e tão óbvia, causa-me vergonha alheia. Estamos, portanto, entregues a pessoas que consideram que o cargo de primeiro-ministro se coaduna com a existência de “imperfeições” que ao comum cidadão não são admitidas. E é esta displicência que me causa engulhos. Se nem para conseguirem chegar ao topo os políticos se esforçam para alcançar a perfeição, como é que querem que um país acredite que iremos ser conduzidos por gente séria (e também aqui não me vou alongar sobre a honestidade e idoneidade) e capaz de ir até ao limite do possível, se não o são em causa própria?

Há uma frase que ainda hoje é recuperada em jeito de private joke: “era pô-los todos num saco, amarradinhos e bem fechadinho e mandá-los para (inserir conflito armado sangrento do momento)”.

Puta que os pariu.

terça-feira, 3 de março de 2015

Resoluções de Março Novo

Voltar a vestir a roupa que repousa no roupeiro. O caminho vai ser duro. Tal como o foi há 10 anos atrás. Nessa altura sumiram-se 17 kg. E ainda hoje me lembro da sensação maravilhosa de conseguir lá chegar por mim, para mim e apenas contando comigo. O mundo era meu e eu estava pronta para o conquistar. A fasquia agora está ligeiramente mais baixa. São 10 kg para abater. Mas eu sou resiliente. E paciente. E preciso de um desafio que dependa inteiramente da minha determinação. Que dependa apenas de mim e do meu esforço, sem factores externos a interferir, sem precisar daquela pitada de sorte. É muito fácil entrar numa espiral de pessimismo. Demasiado fácil e são demasiadas coisas a acontecer ao mesmo tempo a puxar-me nessa direcção. Vamos então abrir as hostilidades. Venha a Primavera. Venham as caminhadas. Venha o Sol. Encontramo-nos por aí e eu comigo mesma.

segunda-feira, 2 de março de 2015

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Às vezes

Dás por ti a pensar que alguém lá em cima tirou o dia para te infernizar. Imagino-o assim a fazer pim-pam-pum e a escolher uma vítima para as suas partidas. Com tantos dias em que os azares podem bater à porta por que raio resolve concentrar tudo num único? Podia brindar-me com uma enxaqueca (daquelas que mal dá para abrir os olhos) hoje, o puto a arder em febre amanhã e uma avaria geral nas telecomunicações noutro dia qualquer. Mas não. Tudo no mesmo dia é que é bom. Ora vamos lá testar os níveis de resistência ao stress aqui da moça. Guess what? Andam nos mínimos. Só espero estar igualmente na calha quando chegar a altura de distribuir surpresas boas, combinado?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Pobreza

Era uma daquelas pessoas que não passam despercebidas. Longa cabeleira loira, casado comprido com pêlo nas mangas e na gola, unhas impecavelmente pintadas, mala de marca e sapatos de salto alto no mesmo tom, calças de bom corte. A forma entusiasmada como falava, sobre uma nova perspectiva de emprego, despertou-me a atenção. Falava alto, com um timbre seguro e gargalhada fácil no tom certo. Fiquei a ouvir a conversa enquanto bebia o meu café. Nesses minutos percebi que sou, de facto, de origens modestas. Dizia esta senhora de bom ar, que as pessoas compram casas boas, até na Expo, e depois fazem carne picada com chouriço e não pode haver coisa mais pobre que juntar chouriço à carne picada, quando há tantos outros temperos e molhos. De pobre! Fiquei então a saber que, se dúvidas tivesse sobre a minha origem, sou indubitavelmente pobre porque gosto de sentir o sabor do chouriço na carne picada. É de P-O-B-R-E, sublinhava ela bem alto. Não pude deixar de sorrir ao pensar que há uns anos que não como carne picada com chouriço. O Sr. Joaquim do talho bem diz que lamenta mas agora as normas de higiene não permitem misturar o chouriço com a carne, coisas da ASAE, menina, desculpa-se ele. E desta forma eu, que não quero ser rica mas apenas comer carne picada com chouriço, dou por mim a subir na minha condição social. Existe cada vez mais pobreza é certo. Sobretudo a de espirito.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Ir às compras com o miúdo num meio pequeno

É meio caminho andado para testares o teu à vontade com situações que rapidamente fogem ao teu controlo e conheceres uma série de pessoas novas. Desde de perguntar ao senhor da secção de frutaria, de forma indignada, porque não pesa a fruta da mãe (quando a mãe está pacientemente à espera da sua vez), pedir o pão à senhora da padaria quando estamos na ponta oposta do supermercado, sem esquecer do fantástico momento em que diz à senhora do lado para ela não levar bananas que faz mal ao cocó. Se eu podia ir às compras sozinha? Podia. Mas não era a mesma coisa.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Pensamentos ruminantes #1

Casa para alugar. Alguns interessados. Ninguém se chega à frente. Não recebo desde Novembro. Projecto a acabar. Devolver o dinheiro da caução. Pedir, pagar e não bufar o #$%& do certificado energético. Continuar a pagar casa ao banco. Não recebo desde Novembro. Projecto a acabar. IMI à porta. IUC também. Continuar a pagar casa ao banco. Projecto a acabar. Não recebo desde Novembro.

(precisava de uma almofada fofinha, que a minha não me anda a deixar dormir.)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Guardo os sonhos em caixas de papel

Às vezes volto a estas caixas, finamente escolhidas. Coloridas, pacientemente feitas em tempos de menor turbulência. Tiro-os um a um. Espalho-os em cima da mesa. Confiro se aparecem as primeiras marcas do tempo. Desdobro-lhes os cantos enrugados, sacudo o pó e devolvo-lhes as cores. Alguns, poucos, não voltam às caixas. Tal como nas gavetas, às vezes é preciso deixar espaço vazio para ocupar, num equilíbrio que se quer são. É por isso que os guardo em caixas de papel. Nem saberia onde os colocar senão aqui, onde o tempo vai erodindo os cantos. Para que eu não me esqueça, de vez em quando, de os resgatar à memória.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Sempre do lado errado da barricada

Era uma vez uma empresa que ia de vento em popa. Os lucros aumentavam todos os anos (embora os salários nem por isso), investia-se no cumprimento de rigorosos critérios de qualidade, qualificação de trabalhadores e nos últimos anos até se promoveu a avaliação de desempenho, a homenagem a trabalhadores com mais anos de casa (uma espécie de diuturnidade) e até a atribuição do prémio de empregado do mês. As obras surgiam em catadupa e o céu era o limite no que à ambição dizia respeito. Depois veio a crise e as obras pararam. Uma série de más opções de estratégia e de gestão ditaram o desfecho. Salários em atraso e por fim a insolvência, que ainda hoje se arrasta em tribunal. Cada um pegou no que sabia e podia fazer, nos contactos que dispunha, na vontade de seguir os seus sonhos e quase todos fizeram-se novamente à estrada. A maioria emigrou. Destes, a maior parte seguiu para os Palop, Angola à cabeça. Também eu devo a este país a minha actual fonte de rendimento. Mas a crise, desta vez petrolífera, voltou a mudar as regras do jogo. E assim, eis que novamente recomeça tudo outra vez. Salários em atraso, paragem do investimento, tudo em suspenso à espera de novos dias, que decerto não voltarão nos moldes actuais. E eu, que estou a viver este filme novamente, dou por mim a pensar até que ponto isto não é sina. Quantas mais vezes vamos ter de passar por isto? Durante quanto tempo? Como é que se vive sem a capacidade de fazer planos, porque isso de o futuro estar na nossa mão e depender inteiramente de nós é muito bonito quando sabemos que no limite temos com o que sobreviver. Quantas mais vezes vai ser preciso recomeçar do zero?

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Via Verde ou nem por isso


Não percebo como é que na era do digital, não consigo alterar uma mísera morada na Via Verde por telefone. Como é que isto é possível, sobretudo numa empresa que andou na vanguarda da inovação?! Ó, Xô D. Anna Blue, mas pode fazer isso também através do nosso serviço Via Verde Fácil. Pois sim. Só me falta é a paciência para escrever uma carta ou email, a indicar o meu novo nº de telelé, para que depois me seja enviada uma pass, para eu depois poder registar-me no dito Via Verde Fácil e conseguir finalmente fazer a bendita alteração de morada. E eu, na minha santa ignorância volto a perguntar: como é que na altura do digital, em que se consegue fazer tudo e mais um par de botas na hora pela internet/telefone, eu não consigo fazer uma simples alteração de morada?! E agora, assim de repente lembrei-me da Kodak, não sei porquê.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

2015

Um ano em branco. 365 dias (364 agora) por preencher. Zero resoluções. Será como tiver de ser, que isto de tentar controlar o que não depende inteiramente de mim gasta mais energia do que aquela que tenho acumulada. Ficarei feliz se não perder ninguém, se houver saúde para os que me são próximos e não faltar comida na mesa. O resto será por navegação à vista, que os mapas estão desactualizados, os gps também falham e o tempo tão depressa é anticiclónico como surgem centros de baixas pressões. Dizem que as pessoas mais felizes são aquelas que não tentam controlar os acontecimentos, que se deixam levar na corrente. Assim sendo, soltem-se as bóias e as amarras. Let the journey begin.