Era uma daquelas
pessoas que não passam despercebidas. Longa cabeleira loira, casado comprido
com pêlo nas mangas e na gola, unhas impecavelmente pintadas, mala de marca e sapatos
de salto alto no mesmo tom, calças de bom corte. A forma entusiasmada como
falava, sobre uma nova perspectiva de emprego, despertou-me a atenção. Falava
alto, com um timbre seguro e gargalhada fácil no tom certo. Fiquei a ouvir a
conversa enquanto bebia o meu café. Nesses minutos percebi que sou, de facto,
de origens modestas. Dizia esta senhora de bom ar, que as pessoas compram casas
boas, até na Expo, e depois fazem carne picada com chouriço e não pode haver
coisa mais pobre que juntar chouriço à carne picada, quando há tantos outros
temperos e molhos. De pobre! Fiquei então a saber que, se dúvidas tivesse sobre
a minha origem, sou indubitavelmente pobre porque gosto de sentir o sabor do
chouriço na carne picada. É de P-O-B-R-E, sublinhava ela bem alto. Não pude
deixar de sorrir ao pensar que há uns anos que não como carne picada com
chouriço. O Sr. Joaquim do talho bem diz que lamenta mas agora as normas de
higiene não permitem misturar o chouriço com a carne, coisas da ASAE, menina,
desculpa-se ele. E desta forma eu, que não quero ser rica mas apenas comer
carne picada com chouriço, dou por mim a subir na minha condição social. Existe
cada vez mais pobreza é certo. Sobretudo a de espirito.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
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