Nem sei do que vou ter mais saudades: se da interacção
forçada com outros pais (já confraternizamos com gente da Moita, do Barreiro e
do Algoz), se das manhãs passadas a ir pescá-lo das ondas, bem como tudo o que
é balde, regador e pás, nossos e alheios, ou de estar de sentinela às
construções dos outros putos dada a sua predileção por destruir tudo o que tem
mais de 10 cm de altura.
Há coisas que, não só não mudam, como ainda se refinam com o tempo. Quando é que eles começam a acalmar, mesmo?
domingo, 28 de junho de 2015
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Dias azuis I
Quis o acaso que tivesse sangue árabe a correr-me nas
veias. A ele devo provavelmente o gosto pelo calor e pelos dias de verão, a
preferência pelas ervas aromáticas em detrimento dos molhos, a assimilação
fácil dos sotaques do sul em vez da dicção mais politicamente correcta da
capital. Há alguns dias atrás disseram-me que pensavam que eu era alentejana ou
algarvia. Assim fiquei a saber que, para além do coração árabe, transporto
também expressões próprias do sul e nunca me tinha dado conta. Vou ao mercado
em busca de tomilho e dizem-me que não têm, apenas carqueja e poejo. E eu trago
carqueja e poejo. Não sei que vai ficar bem na carne, mas lembro-me que a minha
avó tinha sempre carqueja e poejo em casa. Dou-me igualmente conta que há
coisas que mudaram. As velhotas já não se sentam à soleira ao fim do dia a ver
quem passa e a maioria das casas aqui da rua está hoje abandonada. Passo por
elas e ainda me lembro dos nomes de quem lá viveu. A casa no Monte Costa está
agora completamente envolta em silvas e abelhas. Já não consigo lá entrar.
Ainda assim vou espreita-la a amiúde, numa espécie de peregrinação que só eu
entendo. O resto fica guardado na minha memória. Talvez um dia o meu filho
herde também o gosto por esta herança imaterial, por este património familiar
que não voltará a acontecer. Ou não. Mas enquanto aqui estamos dou por mim a
contar-lhe histórias que sei que ainda não entende. Tenho consciência disso,
mas sei que alguma coisa ele irá guardar. Nem que seja o cheiro a carqueja. Ou
a lembrança da temperatura da água do mar. Ou do calor tórrido que corre por este
serro abaixo e nos queima a pele ao chegar. Um dia ele saberá por que razão a
mãe retorna sempre a um ou dois sítios perdidos no meio da serra, por que insiste
em regressar aqui onde os dias são azuis, mesmo em pleno Inverno. Aqui sinto-me
em casa.
quarta-feira, 17 de junho de 2015
Constatações #3
O mercado de arrendamento é um mundo louco. A vida
está cara. Para todos. Manter um imóvel em condições implica investir na sua
manutenção. Há IMI, seguros e condomínio para pagar, sem falar na prestação
bancária de quem ainda o deve ao banco. Se um imóvel está bem cuidado,
mobilado e pintado não pode valer o mesmo que um que esteja a necessitar de
intervenção e por mobilar. Quando se assume que o valor é negociável, isso quer
dizer que se pode baixar um pouco o valor da renda mas não que esta seja metade
do inicialmente proposto. Mas há quem não entenda isso e considere que os proprietários
devem ser a Santa Casa da Misericórdia e contribuir para um mundo melhor, arrendando
pelo preço que o potencial inquilino está disposto a pagar, mesmo que isso seja
um valor anedótico. Quando a contraproposta é recusada ainda questionam o
porquê, mandam emails e batem à porta das restantes imobiliárias onde a casa
está em montra. Há ainda quem negoceie o arrendamento para depois subalugar,
achando que num meio pequeno onde toooooooooooda a gente se conhece isso nunca
viria a saber-se. Sem esquecer ainda os que não têm rendimentos, nem dinheiro
para a renda de caução nem fiadores mas ainda assim dizem que vão conseguir
pagar e ficam ofendidos quando são recusados. Ok. Ingénua, mas não tanto. E ainda
estrabucham e são mal-educados. Depois de 5 meses com a casa para alugar chego
à conclusão que existe gente muito descompensada por aí. E uma grande parte
dela está a tentar alugar casa.
Loud places
Eu também preciso deles com a mesma cadência que
preciso dos silêncios. São as duas faces da mesma moeda.
Cúmulo da ingenuidade
Mentirem-te descaradamente e tu não só não percebes como ainda te ofereces para ajudar.
terça-feira, 16 de junho de 2015
Dos reencontros
Pegar nas palavras escritas e esquecidas e nas lembranças de
outros tempos. Limpar-lhes o pó e colocá-las ao sol a esvoaçar. Deixar que
voltem a nós mais uma vez, e outra e outra. Regressar ao lugares de memória, podando
a nostalgia e deixando apenas ficar a essência que deu origem à escrita. Há
momentos cujo porquê já esqueci. Outros há em que ainda lhes sinto o cheiro. E
depois há surpresas escondidas que permitem um reencontro com outras palavras e
sentidos alheios. Formas de estar e de sentir, pequenas histórias de vida com magia
dentro. E, sem andar à procura, mas feliz por ter tropeçado naquele detalhe,
fico agora sem saber se celebro a alegria deste reencontro sozinha ou se
timidamente lhe digo que estou feliz por a ter reencontrado, porque afinal
ainda sinto o cheiro da magia das suas palavras. A vida muda, as pessoas mudam,
a escrita muda. A empatia não. A minha pelo menos.
sexta-feira, 12 de junho de 2015
O estigma do desempregado
A propósito de comentários que tenho vindo a colecionar,
chego à conclusão que uma pessoa que se encontre desempregada não pode:
1. andar bem arranjada. Isto inclui pintar o cabelo e
arranjar as unhas. Dado que não tem rendimentos, deve por isso viver de acordo
com essa condição. Deve deixar crescer as raízes, lavar o cabelo apenas uma vez
por semana e usar sempre calças de fato de treino e t-shirts largueironas. Parece
que a única razão pela qual as pessoas se vestem decentemente é apenas para
irem trabalhar.
2. ir ao café ou sair
de casa. Sair e ir beber um café é um acto que só está reservado a quem
trabalha e ganha um salário, pois basta colocar o pé fora de casa para estar
sujeita à condenação da comunidade.
3. ter qualquer tipo de vida social. Se está desempregada
deve viver enclausurada em casa e carpir a sua condição de desempregada até ao
limite.
4. ser sorridente ou
bem disposta. Deve comportar-se de forma depressiva e expor as suas dificuldades
a quem com ela se cruze, não deixando margens para dúvidas que vive de forma
miserável.
Nos pontos anteriores há algum exagero, é certo. Mas vivendo
numa comunidade pequena, e que muitas vezes se equipara a um regresso ao
recreio escolar, há olhares e expressões que, apesar de não serem verbalizados,
deixam transparecer este tipo de pensamento. E, infelizmente, há outros que
chegam mesmo a ver a luz do dia e que validam os pontos anteriores. Não é fácil
viver sem saber o que o dia de amanhã trará e requer força de vontade não
deixar o pessimismo tomar conta do dia-a-dia. Não demonstrar a angústia sobre a
incerteza do futuro não faz de mim melhor pessoa, embora seja mais agradável
para quem comigo priva. Mas perante estes pequenos episódios que vou
registando, fico a pensar que vivo/vivemos num mundo muito pequenino, onde se
categorizam as pessoas apenas com base na sua situação profissional e pelo que
exteriorizam. Nada de novo, portanto. Continuamos, como sempre, a viver de
aparências.
quinta-feira, 11 de junho de 2015
Oiço vozes
Desta vez é a sério. É hoje que eu vou pegar na minha tese e
refazer tudo. A sério! Não, não, é só mais uns minutos, estou aqui a ver uma
coisa na net e vou já de seguida. Espera, deixa lá só espreitar mais isto. Eh pá,
deslarga! Eu preciso só de encher a cabeça com lixo cibernético para depois
estar mais motivada para esmiuçar aqueles artigos, não entendes? Sim, sim, já
vou, já vou… Fónix!!! é já quase uma da tarde e não me disseste nada?! Porra, não
se pode confiar em ninguém, nem mesmo na própria consciência… Olha, vou fazer o
almoço e depois pego nisso. Eh, pá deixa-me da mão, já disse!
(Santa Engrácia devia ser a padroeira dos alunos de mestrado)
(Santa Engrácia devia ser a padroeira dos alunos de mestrado)
terça-feira, 9 de junho de 2015
Pergunta para queijo #2
Perante a possibilidade de ter de obrigatoriamente reduzir a
actividade física do miúdo, eu pergunto: e onde é que se tiram as pilhas?
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Três em um
1. Deixei de poder estacionar o carro em frente a casa.
Tenho um monte de calhaus da calçada no lugar do carro.
2. Por indicação médica vou ter de dar doses cavalares de
praia ao puto (oh, que chatice!)
3. Há quem sonhe com Lamborghinis roxos. Eu tenho pesadelos
com a minha tese. Aliás, toda ela é um pesadelo. Limito-me a reviver o meu dia-a-dia
durante a noite.
Num mundo perfeito eu levaria o puto à praia e, enquanto ele
brincaria sossegadamente à beira da água, eu conseguiria avançar alguma coisa
na dita. Da próxima vez que eu pensar em voltar a estudar, internem-me por
favor.
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Live report from ruralidade
Estão a fazer uma intervenção às condutas de água aqui na
rua. Tenho vista para a retroescavadora que está a milímetros da parede da casa.
Abriram uma vala em frente à minha porta e depositaram o monte de escombros
carinhosamente ao lado. Fui à pressa tirar o carro enquanto ainda se conseguia
circular. Estão 5 marmanjos a mandar vir uns com os outros há mais de 1 hora e
corre água a rodos. Não sei se quero ver o resultado final da intervenção…
Rota das Consultas (em elaboração)
Distância: cerca de
1500 metros. Pode aumentar dependendo do número de ramais percorridos, alguns
de forma recorrente.
Duração: variável. Usualmente
não menos de 2h.
Tipo de percurso:
circular, linear, triangular, hexagonal, outros não especificados.
Altitude máxima:
depende do número de cadeiras empilháveis na sala de espera.
Grau de
dificuldade: adversidade do meio = 3; Orientação=4; Tipo de piso =2; Esforço
físico=5
Ponto de partida e
de chegada: parque de estacionamento da unidade de saúde.
Pontos de
interesse: recepção, sala de espera, consultório, gabinete de exames, parque de
estacionamento.
Época aconselhada:
todo o ano. Com condições meteorológicas adversas aconselha-se o uso de
vestuário e calçado adequado (solas com elevado nível de aderência).
Descrição: a Rota
das Consultas é um percurso misto (linear, circular, outros) que liga as várias
unidades de saúde que constam do programa mais extenso delineado pela pediatra.
Desta forma a Rota das Consultas pode ser percorrida em várias etapas sendo constituída
pelo PR1 - Consulta de Pediatria, PR2 - A Magia da colheita de sangue e de
urina, PR3 - Consulta de Otorrino, PR4 - Na Senda do Timpanograma, PR5 - A
Conquista do Audiograma. A partir deste último existe ligação ao PR1.
Esta é uma rota
única, que permite aos participantes elevar de forma sustentada os seus níveis
de stress, uma vez que a criança, extremamente activa por sinal, passa imenso
tempo em espaços fechados, sem grandes distrações. A tranquilidade da colheita
de sangue e urina é apenas interrompida pelos gritos e tentativas de fuga do
menor, prontamente controladas pelos progenitores e alguns prestadores de
cuidados.
Actualmente estão a
decorrer ainda os trabalhos de marcação e sinalética dos PR3, PR4 e PR5 (descrição
destes percursos disponível em breve)
No fim da rota espera-vos
um possível diagnóstico, uma melhoria significativa da condição física do menor
e decisão quanto ao próximo caminho a percorrer.
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