Contudo, outras decisões há que se tomam porque o rumo da vida assim o exige. Não são desejadas, não resultam de planos, sonhos ou ambições. São muitas vezes uma forma de resolver danos maiores, abreviar o tempo de duração dos “ses” que se atravessam no caminho. E o problema dos “ses” é que nunca têm um prazo de validade para se converterem em alguma coisa. Há alturas que sinto confiança e acredito em saltos de fé, e permito-me andar ao sabor da corrente, na esperança que as coisas se resolvam por si. Mas esta coisa de se acreditar na sorte normalmente não me corre bem e fui aprendendo a colocar a tónica cada vez mais na racionalidade e menos no lado emocional das decisões. Continuo a caminhar ao longo da linha do comboio, mas agora já não pago para ver se a luz ao fundo do túnel é mesmo uma saída, ou se é apenas (mais) um CP Carga em rota de colisão.
Amanhã vou assinar o contrato de promessa de compra e venda
desta casa. E se por um lado sei que me vou livrar de uma série de dores de
cabeça e recuperar grande parte do controlo da minha vida, por outro não deixo
de sentir que de alguma forma é uma volta atrás naquilo que ambicionei e
projectei durante algum tempo. Deixa um amargo de boca por muito que eu
racionalmente saiba que esta é a melhor solução, uma solução que me permite
readquirir novamente a capacidade de voltar a projectar outro tipo de sonhos. Racionalmente
sei que estou a fazer um bom negócio, emocionalmente tenho dúvidas. Há uns anos
atrás eu fazia o tal salto de fé. Hoje já não.
Curiosamente, nestes últimos
dias tenho tido o pátio cheio de pirilampos, coisa que em 5 anos que aqui estou
nunca tinha acontecido.