quinta-feira, 20 de agosto de 2015
(...)
Tento
não pensar muito na morte. Não penso muito na minha, muito menos na do meu filho,
embora me vá mentalizando para a dos meus pais. Porque é essa a lógica normal. Primeiro
vão os pais. Depois os filhos. O entretanto é para ser vivido e sobretudo sentido,
abraçado, beijado, amado. Algumas palavras, poucas, fazem tanto sentido como um
abraço apertado. No fim, acho que não me irei arrepender do que não disse, eu não
digo muita coisa que valha a pena guardar, mas irei sentir sempre a falta de não
ter falado por abraços, ou por momentos de silêncio em que palavras eram desnecessárias,
e por serem desnecessárias, se ditas seriam banalidades, vazias. E é isto que me
está a consumir. Faltou-me o abraço. Algures no tempo não cheguei a dar aquele abraço.
Ficou no ar o “até já”. Um até já que vai ser tão longo como a minha vida inteira.
Um até já porque era assim que querias que fosse. E, perante a tua grandeza, nada
mais me resta, a não ser guardar o abraço que não te dei e imaginar-te a chamares-me
de tonta.