Onde íamos mesmo?
Pensei seriamente em fazer uma espécie de diário deste novo
confinamento, só para um dia mais tarde perceber exatamente em que altura é
que comecei a perder a minha sanidade mental. Mas entre tomar conta de duas crianças
fechadas num apartamento de 80 m2, estar em teletrabalho, preparar as
formações, sopas, roupa, e toda demais rotina doméstica, achei que seria humanamente
impossível e resolvi guardar o pouco tempo que sobra para dormir qualquer coisa.
Se há coisa que o anterior confinamento me ensinou foi perceber o quão fácil é perder
a sanidade mental. De modos que, desta vez, delineamos uma estratégia adaptada aos
tempos de guerra que por aqui se vivem. Guerra à loucura. Guerra à falta de
paciência. Guerra ao impossível. E por isso rendemo-nos logo à evidência que
isto vai ser duro (mais duro do que o confinamento anterior, pois antes eu
estava em lay off e agora estamos os dois a trabalhar), vai ser longo (vai
durar decerto muito mais do que os 15 dias iniciais) e vai ser intenso (com
duas crianças substancialmente mais fartas de tudo aquilo que não podem fazer há
já vários meses). E que estratégia é essa, Anna, que contas para ultrapassar
esta tão difícil provação? Sobreviver aos poucos. Primeiro conseguir chegar ao
almoço. Depois pensar que mais umas horas e será hora de jantar e depois disso
a hora de irem dormir. Chegar ao final do dia e pensar que já passou mais um dia.
Guardar momentos ao longo do dia para fazer parvoíces com eles. Tanto pode ser
uma batalha de cócegas ou rebolar com eles pelo chão (dá também imenso jeito
para varrer o chão ao mesmo tempo), ou fazer moche na cama. Só naquela de
libertar a pressão. Apostar no copo de vinho à refeição (e ir mantendo a
garrafeira atestada). Fazer turnos a tomar conta deles. Ir tentado manter o
trabalho minimamente em dia (aqui é mais difícil e é onde eu começo a stressar
mais facilmente). E então, Anna? Está a resultar? Até mais ver sim. Dia 3 do
novo confinamento, está tudo vivo e ainda não nos divorciámos. Veremos no
próximo report…
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