sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Sempre do lado errado da barricada
Era uma vez uma
empresa que ia de vento em popa. Os lucros aumentavam todos os anos (embora os
salários nem por isso), investia-se no cumprimento de rigorosos critérios de qualidade,
qualificação de trabalhadores e nos últimos anos até se promoveu a avaliação de
desempenho, a homenagem a trabalhadores com mais anos de casa (uma espécie de diuturnidade)
e até a atribuição do prémio de empregado do mês. As obras surgiam em catadupa e o céu
era o limite no que à ambição dizia respeito. Depois veio a crise e as obras
pararam. Uma série de más opções de estratégia e de gestão ditaram o desfecho.
Salários em atraso e por fim a insolvência, que ainda hoje se arrasta em
tribunal. Cada um pegou no que sabia e podia fazer, nos contactos que dispunha,
na vontade de seguir os seus sonhos e quase todos fizeram-se novamente à
estrada. A maioria emigrou. Destes, a maior parte seguiu para os Palop, Angola
à cabeça. Também eu devo a este país a minha actual fonte de rendimento. Mas a
crise, desta vez petrolífera, voltou a mudar as regras do jogo. E assim, eis
que novamente recomeça tudo outra vez. Salários em atraso, paragem do
investimento, tudo em suspenso à espera de novos dias, que decerto não voltarão nos moldes actuais. E eu, que estou a viver
este filme novamente, dou por mim a pensar até que ponto isto não é sina.
Quantas mais vezes vamos ter de passar por isto? Durante quanto tempo? Como é
que se vive sem a capacidade de fazer planos, porque isso de o futuro estar na
nossa mão e depender inteiramente de nós é muito bonito quando sabemos que no
limite temos com o que sobreviver. Quantas mais vezes vai ser preciso recomeçar
do zero?
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