segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Notas de um dia qualquer

Um toque gentil no ombro. A minha surpresa perante a inesperada aproximação desvaneceu-se diante da delicadeza dos gestos mudos. Apesar de nunca ter tido contacto com a linguagem gestual, dei por mim a seguir com o olhar a mensagem que delicadamente me tecias. Pedias um contributo para uma causa nobre, tão distante da minha realidade, que facilmente seria ignorada noutras circunstâncias. Não me recordo dos gestos, retive apenas a mensagem e mais do que a mensagem a forma subtil e delicada com que o fazias. Nesses instantes pensei somente em musicalidade. Não em música, ou sons. Mas simplesmente em musicalidade. Porque em silêncio preencheste o vazio de som e fizeste-o de forma sublime e simples. Da mesma forma que a música preenche o pensamento ausente de palavras. Dei-te algumas moedas mas não tinha palavras para te dar mesmo que me escutasses. Não sei dizer musicalidade em mais língua nenhuma, muito menos em linguagem gestual. E contudo seria apenas a única coisa que te diria. Despediste-te acenando com um toque leve nos lábios em sinal de agradecimento e foste embora da mesma forma gentil com que havias chegado. Silenciosamente.

Foto de Bruno Silva

1 comentário:

  1. Há uns tempos, almocei num restaurante onde estava um grupo de pessoas que falavam em linguagem gestual. Pelas caras e pelo vigor dos gestos, dava para perceber que era uma conversa animada. Nesse momento senti-me ignorante por não saber linguagem gestual e não foi por curiosidade de saber o que diziam, nada disso, foi por imaginar que, se um dia, fosse abordada por uma pessoa destas, não saberia comunicar com ela e isso é triste.

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