quarta-feira, 2 de julho de 2014

Já dizia Sócrates

Durante anos saí diariamente na Cidade Universitária. Muitas vezes ensonada, outras apenas cansada, mas quase sempre expectante em relação ao dia que ia ter. E invariavelmente, à semelhança dos outros milhares que por ali passam diariamente, era confrontada com a célebre frase de Sócrates “não sou grego nem ateniense mas sim um cidadão do mundo”. Tantas vezes dei por mim a pensar em ganhar mundo, em conhecer melhor o que estava para lá do aparente, do quotidiano, das minhas fronteiras. Eu, que sempre tive tantos limites para ultrapassar, via naquela frase uma espécie de libertação, que me fazia sorrir.
Agora já não passo pela Cidade Universitária. Em vez disso, nesta ruralidade que me envolve, olho para o calendário e reparo que estás cada vez mais perto de iniciar uma nova etapa. Cá dentro mora um sentimento de ambiguidade. Se por um lado me sinto feliz por te ver a crescer, e a data que se aproxima no calendário é apenas mais uma constatação disso, por outro lado tomo consciência que és cada vez mais do mundo e menos “nosso”. Até aqui acompanhei todas as tuas conquistas, vi-te cair muitas vezes, deixei-te cair em algumas e evitei outras tantas, mas em todas estive presente. Agora tenho de aprender a que é altura de saíres debaixo das minhas saias, ganhares o teu espaço, fazeres as tuas descobertas, ansiar pelas histórias que irás trazer no fim do dia. É altura de começares a ganhar mundo (e se o mundo tem tanto para oferecer!). Porque afinal, embora sejas sempre uma parte de mim, és também cada vez mais dos outros, do que te rodeia e sobretudo és cada vez mais tu próprio.