domingo, 17 de janeiro de 2010

Do número 2

Dois encontros com quem há muito não via. Dois momentos distintos no tempo. Dois dedos de conversa para pôr alguma coisa em dia. Duas formas de estar completamente diferentes. Duas etapas de vida regidas pela lógica de cada idade. Duas constatações: que estou diferente e que continuo igual a mim mesma. Duas coincidências. A mesma conclusão.

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

...

Na lista dos teus fins venho no fim
de uma página nunca publicada,
e é justo que assim seja.
Embora saiba
mexer palavras, e doer de frente,
e tenha esse talento conhecido
de acordar de manhã, dormir à noite,
e ser, o dia todo, como gente,
nunca curei, como previa, a lepra,
nem decifrei o delicado enigma
da letra morta que nos antecede.
Por muito te querer, talvez pudesses
dar-me um lugar qualquer mais adiante,
despir-te de pudor por um instante
e deixá-lo cobrir-me como um manto.

António Franco Alexandre

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Não é possível ficar indiferente

Às imagens e noticias que chegam do Haiti. Para quem está longe da catástrofe fica uma desconfortável sensação de impotência. O pensamento paira sobre esta efemeridade que é a vida humana e do que dela fazemos. No tempo que perdemos nas pequenas coisas que afinal não são mais do que apenas isso: pequenas. Às vezes tão pequenas que constrangem quando para trás olhamos. E com o tempo que com elas perdemos. Tanto. Demasiado. E pesam, muito. Não passam numa sucessão de nadas que somados não dão coisa alguma e no entanto insiste-se sempre, uma vez e outra mais. Para quê? Hoje estou aqui, amanhã não sei. Entre o agora e o amanhã cada vez mais escolho ser apenas. Sem egoísmos ou falsos altruísmos, que não são mais do que a outra face da mesma moeda. Sou. Apenas isso. Para que no dia em que feche os olhos não me pesem os nadas. Para que o que sou seja suficiente para sentir que valeu a pena.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Do silêncio #2

Entre a folha branca e o gume do olhar
a boca envelhece

Sobre a palavra
a noite aproxima-se da chama

Assim se morre dizias tu
Assim se morre dizia o vento acariciando-te a cintura

Na porosa fronteira do silêncio
a mão ilumina a terra inacabada

Interminavelmente

Eugénio de Andrade

















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