terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Ao ano que fica para trás

Não gostei particularmente de ti. Não me trouxeste o sossego mental que preciso, nem noites calmas e tranquilas de sono. Mas deste-me muitos momentos de introspecção, de perda e de impotência. Levaste-me muitas vezes à beira da loucura, de sentir que estava a um pequeno passo de perder a razão e o discernimento, momentos esses que, de tão intensos, vão ficar para sempre gravados em mim. Mas também me fizeste perceber que, apesar de tudo, ainda consigo manter a capacidade de rir e de me sentir feliz. Tive demonstrações incríveis de amizade e carinho, que aconteceram sem ser planeadas e no momento certo, reacendendo um pouco de mim que estava adormecido. Este foi o ano em que doei a minha farta e longa cabeleira, numa promessa solitária que não partilhei com ninguém. E senti-me um pouco menos triste depois de o fazer, apesar de em nada me atenuar a saudade. O meu filho todos os dias me pergunta se o meu cabelo vai voltar a crescer e eu respondo que sim, mas que vai demorar bastante tempo. O que não lhe digo é que ele marca o ritmo da saudade, que cresce a cada dia que passa. Este foi ano em que mais abracei. E não tendo grandes conquistas para comemorar, então que este ano tenha valido a pena apenas por isso, pelos abraços que dei e recebi. Faltou-me apenas um abraço. Penso nele muitas vezes. Não são raras as ocasiões em que sinto uma grande serenidade e é nessas alturas em que penso que talvez esteja a sentir esse abraço que me faltava. Pelo menos gosto de pensar assim. Agora podes terminar. Não tenho mais nada para te dar, nem espero mais nada de ti. Finda e recomeça. Eu vou fazer o mesmo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Eu bem digo

Que as coisas me acontecem sempre em sequências temporais curtas. Ou não se passa nada, rigorosamente nada, e eu sou muito feliz durante esses períodos de tempo, ou acontece tudo e mais um par de botas ao mesmo tempo.

Pois andando eu ainda a refazer-me psicologicamente do meu encontro imediato com a aranha ENORME, que continua desaparecida algures dentro do volante (e nem quero pensar que ela possa estar noutro sitio qualquer do carro, senão então é que nunca mais lá entro), quando somos brindados com um belo exemplar ratídeo que resolveu mudar-se aqui para casa. Portanto, as noites são passadas em branco, enquanto sua excelência anda pelo telhado e nas paredes, ao mesmo tempo que se tenta explicar a uma criança de 4 anos que não consegue dormir por causa dos barulhos esquisitos (Ò mãe, são monstros assustadores, não são?), que tudo não passa de um gato brincalhão que anda a brincar sozinho, e que não há problema…
E apesar de não nutrir pelos ratos o mesmo medo irracional que tenho por aranhas, ainda assim não deixa de ser extremamente desgastante ouvir a noite toda, o xô doutor a roer sabe-se lá o quê e não puder fazer nada para o impedir. Sim, já está todo um arsenal montado para apanhar o intruso, mas também sei por experiências anteriores que isto pode ser tarefa muito difícil e sem garantias de sucesso.
Eu não sou a cat person, mas talvez tenha de me render a eles…

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Era uma vez…

Uma condutora que pensava que tinha apenas medo de aranhas. Sabia, por experiência, que estes pequenos e encantadores seres de 8 patas, lhe provocavam repulsa e arrepios, e procurava, a todo o custo, evitar encontros imediatos com estes seres tão patuscos do reino animal. Perante situações em que era confrontada com o vislumbre destes seres, saía prontamente pela porta que estivesse mais perto, saltava para o colo de quem estivesse sentado ao seu lado ou simplesmente desatava a correr sem direção definida, descrevendo muitas vezes círculos perfeitos, em perfeito desnorte.

Esta condutora, exímia condutora por sinal, ia em amigável e carinhosa cavaqueira com o seu pequeno príncipe de 4 anos e meio. Era já noite cerrada e um aparatoso acidente levou ao encerramento da estrada que os iria levar a casa e fez com que tivessem de regressar por uma estrada secundária muito pouco iluminada.
A conversa prosseguia para deleite da mãe, que ia concentrada a ouvir as histórias do pequeno petiz. Eis senão quando, pelo canto do olho, esta exímia condutora detecta um movimento suspeito sobre o volante, a escassos centímetros dos seus dedos. Na fração de segundo seguinte, dá-se uma explosão de adrenalina quando reconhece a silhueta inconfundível deste ser de oitos patas, e cuja dimensão das mesmas indiciava ser já de grande porte.
Com admirável destreza, atirou imediatamente o carro para a berma, ao mesmo tempo que acendia a luz do habitáculo. O que viu deixou-a complemente em pânico, mantendo apenas a lucidez suficiente para não desatar a gritar para não amedrontar o petiz. Era uma aranha ENORME com um diâmetro de sensivelmente 6 cm, bem constituída e robusta, que andava também ela em círculos sobre o volante.
Sem armas ou objectividade suficientes para procurar uma forma de se defender de tamanha ameaça, esta exímia condutora não foi capaz de fazer frente à sua terrível inimiga de 8 patas, uma vez que se encontrava quase em perfeito descontrolo emocional. O petiz, que observava curioso a estranha dança que a mãe fazia fora do carro, tentava ajudar “Mãe, eu só sou corajoso com aranhas pequenas… Com aranhas grandes não sou muito valente…”.
Sem discernimento para enfrentar o objecto do seu terror, e que entretanto se escondera algures sob o volante, e sem coragem para voltar a sentar-se no lugar onde momentos antes estivera a centímetros de estabelecer contacto físico com a intrusa octopatuda, a exímia condutora resolveu pedir ajuda ao seu cavaleiro andante, para que a fosse salvar da terrível aranha GIGANTESCA que agora habitava nos confins do volante.
Reza a história que a aranha ainda lá continua, mas apesar de não ter sido novamente avistada, nunca mais a exímia condutora voltou a conduzir aquele carro, para gáudio do seu cavaleiro andante que assim recuperou a posse da jóia da coroa. Apenas se sabe que a exímia condutora tem agora uma certeza: não é medo. É fobia mesmo.
Vitória, vitória, acabou-se a nossa história!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Socorro!

A minha mãe descobriu a internet e o Facebook. Anda possuída a comentar, a colocar gostos como se não houvesse amanhã, a partilhar tudo o que lhe aparece à frente. Já tem 9 amigos. Destes, 5 já querem ser meus amigos também. Liga para o cabeleireiro onde estou a desbastar a minha juba e pede, aflita, para me passarem o telefone. Atendo já em ânsias, coração a mil, é com certeza uma desgraça a caminho. Anna, como é que eu coloco o email aqui numa coisa que me apareceu e que diz que vou receber um Iphone, se responder dentro de 10 minutos?

Medo. Tenho medo. Muito medo…