quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Era uma vez…

Uma condutora que pensava que tinha apenas medo de aranhas. Sabia, por experiência, que estes pequenos e encantadores seres de 8 patas, lhe provocavam repulsa e arrepios, e procurava, a todo o custo, evitar encontros imediatos com estes seres tão patuscos do reino animal. Perante situações em que era confrontada com o vislumbre destes seres, saía prontamente pela porta que estivesse mais perto, saltava para o colo de quem estivesse sentado ao seu lado ou simplesmente desatava a correr sem direção definida, descrevendo muitas vezes círculos perfeitos, em perfeito desnorte.

Esta condutora, exímia condutora por sinal, ia em amigável e carinhosa cavaqueira com o seu pequeno príncipe de 4 anos e meio. Era já noite cerrada e um aparatoso acidente levou ao encerramento da estrada que os iria levar a casa e fez com que tivessem de regressar por uma estrada secundária muito pouco iluminada.
A conversa prosseguia para deleite da mãe, que ia concentrada a ouvir as histórias do pequeno petiz. Eis senão quando, pelo canto do olho, esta exímia condutora detecta um movimento suspeito sobre o volante, a escassos centímetros dos seus dedos. Na fração de segundo seguinte, dá-se uma explosão de adrenalina quando reconhece a silhueta inconfundível deste ser de oitos patas, e cuja dimensão das mesmas indiciava ser já de grande porte.
Com admirável destreza, atirou imediatamente o carro para a berma, ao mesmo tempo que acendia a luz do habitáculo. O que viu deixou-a complemente em pânico, mantendo apenas a lucidez suficiente para não desatar a gritar para não amedrontar o petiz. Era uma aranha ENORME com um diâmetro de sensivelmente 6 cm, bem constituída e robusta, que andava também ela em círculos sobre o volante.
Sem armas ou objectividade suficientes para procurar uma forma de se defender de tamanha ameaça, esta exímia condutora não foi capaz de fazer frente à sua terrível inimiga de 8 patas, uma vez que se encontrava quase em perfeito descontrolo emocional. O petiz, que observava curioso a estranha dança que a mãe fazia fora do carro, tentava ajudar “Mãe, eu só sou corajoso com aranhas pequenas… Com aranhas grandes não sou muito valente…”.
Sem discernimento para enfrentar o objecto do seu terror, e que entretanto se escondera algures sob o volante, e sem coragem para voltar a sentar-se no lugar onde momentos antes estivera a centímetros de estabelecer contacto físico com a intrusa octopatuda, a exímia condutora resolveu pedir ajuda ao seu cavaleiro andante, para que a fosse salvar da terrível aranha GIGANTESCA que agora habitava nos confins do volante.
Reza a história que a aranha ainda lá continua, mas apesar de não ter sido novamente avistada, nunca mais a exímia condutora voltou a conduzir aquele carro, para gáudio do seu cavaleiro andante que assim recuperou a posse da jóia da coroa. Apenas se sabe que a exímia condutora tem agora uma certeza: não é medo. É fobia mesmo.
Vitória, vitória, acabou-se a nossa história!

8 comentários:

  1. Uma aranha de seis, seis centímetros? Isso não é fobia, é medo puro. Apre. Eu vendia o carro.

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    1. É irracional, completamente irracional. É com alguma relutância que confesso que liguei ao homem praticamente a chorar. Não me conseguia controlar. E eu pensava que estava melhor deste medo, até já conseguia matar aranhas pequenas e tudo... Nunca mais consegui sentar-me em carro nenhum descansada, estou sempre a olhar para os respiradouros e reentrâncias todas. É fobia...
      (eu vendia também o carro, tivesse eu guito para comprar outro)

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    2. Eu sei que é fobia, uma pessoa fica num estado de terror incontrolável e irracional. É óbvio que a aranha não nos come, mas prontes. Percebo lindamente, acredita. Mas mesmo não tendo aracnofobia, te garanto que não fazia melhor figura que fizeste. Já me aconteceu, no Alentejo, dar de caras com um exemplar grandão desses, via-lhe os oito pares de olhos perfeitamente. Felizmente foi dentro de portas e estava sozinha, mas fiz uma cena de gritos, correria, fechar portas, mais guinchos, ui. Por isso, não te sintas mal (era isso que queria dizer-te, tipo abracinho solidário).

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  2. *oito pares de olhos ou oito olhos? São quatro pares, salvo erro.

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  3. É incrível como é que um ser tão pequeno consegue fazer tanto estrago, e a tanta gente.

    Viste-lhe os olhos?! AIIII, socorro! Dá-me uma trevadinha na certa. Nem encontro onomatopeias para exprimir o sentimento.

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  4. Na Austrália a maior parte das mortes causadas por aranhas ocorrem por causa de uma bastante gigante mas não letal... mas que gosta de entrar nos carros e aparece de repente quando vais a 140 na autoestrada (huntsman spider). Eu percebo-te e estou contigo. Odeio. Aranhas.

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  5. Aqui dão um bom conselho: elas odeiam calor (suponho que todas): http://www.mdavid.com.au/spiders/huntsmanfear.shtml
    «park your car outside in the sun for a while. The spider won’t like the heat and might just crawl out by itself. In those circumstances I think leaving the windows or doors open will be important»

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    1. Olha, por coincidência ao não, por acaso ia com o aquecimento do carro ligado naquela altura. Então estou feita... na terra onde vivo, só lá para Agosto é que há sol com fartura.

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