domingo, 30 de maio de 2010

Tambolirando com as pontas dos dedos


Sou tempo de espera

Sou tiquetaque que não sossega

Sou constantemente inconstante

Sou azul

Sou quimera







Foto daqui

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Explicação da Eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.
José Luís Peixoto


 

domingo, 23 de maio de 2010

Do silencio #4

Gosto de silêncios. A intensidade faz muitas vezes parte deste espaço de tempo mudo e ainda assim veste-me de cor quando nele habito. Sou pelos silêncios presentes, pelas ausências próximas, pelo pensamento vibrante e sentido. Sou pelo toque na palma da mão, percorrendo com a ponta do dedo todas as linhas da vida. Pelo encontro do olhar suspenso nas palavras que não são ditas. Sou pela tranquilidade, pela calma das horas sem rumo que desfilam sem pressa para terminar. Sou pelos abraços apertados quando tudo o resto é já sabido e sou ainda mais pelos abraços inesperados, sem palavras ou motivos expressos e que de tão intensos e sinceros se agarram a nós para sempre. Sou pela ausência de palavras mas não de sentidos. Pela partilha do indizível. Pelo momento. Sou pelos silêncios.

Foto daqui

domingo, 16 de maio de 2010

Flying to my dreams

Abrir os braços em direcção ao infinito. Ficar a planar sentindo o vento a atravessar-me. Manter os olhos abertos enquanto o coração me bate descompassadamente dentro do peito. Sentir crescer em mim a confiança de chegar lá, mais longe. Acalmar as dores de barriga, as vertigens e o nervoso. E deixar-me simplesmente ir…

Vou voar.

Eu vou finalmente voar.


Foto daqui

domingo, 9 de maio de 2010

A volta do correio

Anda com um postal de Cuba no meio das coisas de trabalho. Cores quentes. Impera o verde, o laranja e o amarelo. As figuras têm a pele curtida pelo tempo. E tempo parece ser o que mais têm para gastar. Não retrata paisagens ou murais à revolução. Não aparecem referências a Che, charutos, mojitos ou carros dos anos 50. É apenas um pedaço de tempo suspenso em que 3 velhotes estão em volta de uma mesa velha e vazia. Para onde quer que vá, o postal segue viagem também. Com ele já percorreu vários continentes. Perguntaram-lhe porquê. Porque tinha sido uma oferta. E todas as ofertas levam consigo um pouco de quem as deu. Fiquei surpresa. Nem me lembrava que tinha sido uma oferta minha, tantos foram os anos que passaram. E mesmo antes de saber disso, a primeira coisa em que pensei quando vi o postal foi que esta seria uma imagem que eu teria escolhido para mim.
Foto daqui