quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Pobreza

Era uma daquelas pessoas que não passam despercebidas. Longa cabeleira loira, casado comprido com pêlo nas mangas e na gola, unhas impecavelmente pintadas, mala de marca e sapatos de salto alto no mesmo tom, calças de bom corte. A forma entusiasmada como falava, sobre uma nova perspectiva de emprego, despertou-me a atenção. Falava alto, com um timbre seguro e gargalhada fácil no tom certo. Fiquei a ouvir a conversa enquanto bebia o meu café. Nesses minutos percebi que sou, de facto, de origens modestas. Dizia esta senhora de bom ar, que as pessoas compram casas boas, até na Expo, e depois fazem carne picada com chouriço e não pode haver coisa mais pobre que juntar chouriço à carne picada, quando há tantos outros temperos e molhos. De pobre! Fiquei então a saber que, se dúvidas tivesse sobre a minha origem, sou indubitavelmente pobre porque gosto de sentir o sabor do chouriço na carne picada. É de P-O-B-R-E, sublinhava ela bem alto. Não pude deixar de sorrir ao pensar que há uns anos que não como carne picada com chouriço. O Sr. Joaquim do talho bem diz que lamenta mas agora as normas de higiene não permitem misturar o chouriço com a carne, coisas da ASAE, menina, desculpa-se ele. E desta forma eu, que não quero ser rica mas apenas comer carne picada com chouriço, dou por mim a subir na minha condição social. Existe cada vez mais pobreza é certo. Sobretudo a de espirito.

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