sexta-feira, 17 de abril de 2015

Azimute Sul

E de repente, dás-te conta que há imenso tempo que não vais à capital. Meses. Mais de seis, pelo menos. E sentes uma grande leveza por isso. De tal forma que dás por ti a pensar que provavelmente já nem sabes conduzir no meio de tanta confusão. Longe vão os dias em que diariamente perdia tempos infinitos, parada no trânsito ou à espera de transporte e aproveitava para contemplar as últimas tendências (ou não) da moda com quem comigo se cruzava. Conhecia os atalhos que me eram úteis, os lugares que a Emel ainda não tinha taxado e até um ou outro arrumador de serviço. Sentia que conhecia o burburinho da cidade, aquela cadência de barulho. Lembro-me de perceber uma certa agitação no ar em dias mais mediáticos e isso fazia-me sentir parte da mol urbana. A minha vida agora é outra. Centra-se aqui, onde estou, longe da confusão, num ambiente que eu apelidei de ruralidade. Por opção, foi aqui que escolhi ficar. Aqui onde ainda há ovelhas a pastar, que me acordam de manhã com o seu balir, onde os senhores usam boina e as senhoras vão às compras de bibe. Aqui acostumei-me a deixar de ser a Anna para passar a ser a mãe do meu filho. Poucos sabem como me chamo, mas perguntam-me sempre pelo menino. Eu, que sempre quis ser anónima, sou por demais conhecida neste meio pequeno, e isso traduz-se num certo sentimento de pertença ao qual eu me julgava imune. Hoje fui desafiada para voltar à cidade por uma noite. Tertúlia no feminino. Não há como recusar. E é neste ponto que me apercebo que há tanto tempo que não rumo à cidade que desconfio que vou ter de usar o GPS. A Catarina que me indique o caminho que eu já perdi os meus mapas mentais. Ou apenas os tenha transformado noutros, mais distorcidos, esfumados pelo tempo. Sabe bem regressar e respirar outros ambientes. Sair da toca, ver outras cores, outros mundos. Mas sabe-me ainda melhor perceber que me sinto bem aqui. Somos criaturas de hábitos, sobretudo aqueles que nos ficam bem na pele.

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