segunda-feira, 20 de julho de 2015

Não tem preço

Ouvir uma “jovem” de 81 anos a falar das suas memórias e contar-me histórias sobre os teares de família os quais ainda hoje utiliza para fazer peças de tecelagem e que já vinham dos seus bisavós.

Encontrar pessoas que já tinha inquirido há mais de um ano e perceber que não só continuo nas suas memórias mas também sou alvo da sua simpatia e amizade.

Perceber que isto do património imaterial é algo que toca muito mais fundo às pessoas que ainda detêm estes saberes e que extravasa em muito tudo aquilo que fica documentado. E com isto perceber que tudo o que possa vir a concluir nesta malfada tese, ficará sempre muito aquém porque é-me impossível verter para o papel todos os sentimentos e memórias que emolduram a herança viva que estas pessoas transportam.

Sentir-me pequenina face à riqueza cultural que estes artesãos possuem, em particular dos mais idosos, e à sua dedicação em manter vivas tradições ancestrais, muitos deles em condições financeiras e de saúde extremamente difíceis.

Não sei se vou conseguir acabar a tese a tempo, mas mesmo que não o consiga, de uma coisa tenho eu a certeza: não me arrependo de ter escolhido este caminho. A riqueza destas gentes é incalculável e eu adorei poder conhecê-las um pouco mais e de viva voz. Tudo o que escreva sobre isto será sempre pouco, insipiente e incompleto. E eu, bicho-do-mato e normalmente pouco à vontade nestas coisas de interpelar os outros, transfigurei-me por completo com estas gentes, tal foi a empatia que senti. Não tem preço. Nem palavras.  

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