quinta-feira, 21 de maio de 2015

(In) Fertilidade

Mais uma vez vejo-me confrontada com a minha memória selectiva. Foi um processo longo e emocionalmente desgastante, porque no decurso de cada tratamento que se faz, constroem-se sonhos, vive-se um estado de pseudo-gravidez com tudo o que isso implica. Na realidade, aqueles dias, semanas de espera são vividos num equilíbrio precário entre alimentar as expectativas ou racionalizar o possível insucesso do tratamento, tudo isto no meio de um cocktail de hormonas que nos deixam física e psicologicamente à beira da loucura. A TPM é para meninos. O mundo gira à volta de horários, injecções, ecografias, consultas. É impossível manter uma aparente normalidade e é por isso que as pessoas bem-intencionadas, que nos aconselham para não stressar, recebem muitas vezes um olhar assassino. Não é por mal, mas esse é um discurso perfeitamente desnecessário. Se querem ser solidárias, digam tudo menos isso. Se eu tivesse recebido um euro por cada vez que alguém me disse para relaxar, estaria rica. Ok, não rica, mas dava para uma bela mariscada em família. Talvez por essa razão acabei por ser uma espécie de porto de abrigo para alguém que está a passar por isso pela primeira vez. As perguntas foram muitas e eu dei por mim a constatar que recalquei, esqueci, apaguei a maior parte dos detalhes do processo. O puto nasceu e eu fiz um reset. É como se não quisesse voltar a ser confrontada com a angústia da incerteza. Contudo, acompanhar esta 1ª viagem de alguém, foi apaziguador. Os fantasmas afinal não metem assim tanto medo. Mais uma gaveta arrumada. E ainda bem, porque tudo indica que esta viagem terá um final feliz e eu sinto-me grata por participar nela desde o início.

2 comentários:

  1. Ai a conversa do stresse. Quando falam nisso, digo que o meu filho implantou-se num útero cujo corpo tinha diariamente crises de ansiedade. E foi verdade, o tratamento mais duro foi aquele que resultou em gravidez. Adorei a frase "a tmp é para meninos". É que é mesmo.

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  2. :D
    As pessoas são bem intencionadas e fazem-no com a melhor das intenções, mas há sobretudo muito desconhecimento e isso gera falta de empatia. Eu deixei de falar nisso. No tratamento em que engravidei ninguém sabia. Só nós e os médicos. Já por causa das conversas dos stresses e afins.

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