segunda-feira, 30 de maio de 2016

Pirilampos, “caga-lumes” ou “luzincus"

Uma vez, há muito tempo atrás numa noite fresca de Primavera, dei por mim no meio do nada, rodeada de centenas de pirilampos. Foi um momento que eu achei tão especial e mágico que ainda hoje constitui uma das minhas mais belas recordações, tendo ocorrido numa altura em que aconteceram várias mudanças boas na minha vida e o lado emocional dominava por completo as minhas decisões.
Contudo, outras decisões há que se tomam porque o rumo da vida assim o exige. Não são desejadas, não resultam de planos, sonhos ou ambições. São muitas vezes uma forma de resolver danos maiores, abreviar o tempo de duração dos “ses” que se atravessam no caminho. E o problema dos “ses” é que nunca têm um prazo de validade para se converterem em alguma coisa. Há alturas que sinto confiança e acredito em saltos de fé, e permito-me andar ao sabor da corrente, na esperança que as coisas se resolvam por si. Mas esta coisa de se acreditar na sorte normalmente não me corre bem e fui aprendendo a colocar a tónica cada vez mais na racionalidade e menos no lado emocional das decisões. Continuo a caminhar ao longo da linha do comboio, mas agora já não pago para ver se a luz ao fundo do túnel é mesmo uma saída, ou se é apenas (mais) um CP Carga em rota de colisão.
Amanhã vou assinar o contrato de promessa de compra e venda desta casa. E se por um lado sei que me vou livrar de uma série de dores de cabeça e recuperar grande parte do controlo da minha vida, por outro não deixo de sentir que de alguma forma é uma volta atrás naquilo que ambicionei e projectei durante algum tempo. Deixa um amargo de boca por muito que eu racionalmente saiba que esta é a melhor solução, uma solução que me permite readquirir novamente a capacidade de voltar a projectar outro tipo de sonhos. Racionalmente sei que estou a fazer um bom negócio, emocionalmente tenho dúvidas. Há uns anos atrás eu fazia o tal salto de fé. Hoje já não.
Curiosamente, nestes últimos dias tenho tido o pátio cheio de pirilampos, coisa que em 5 anos que aqui estou nunca tinha acontecido.

2 comentários:

  1. Podemos imaginar, mas nunca sabemos o desfecho. No fundo, cada decisão, tomada de forma mais instintiva ou vacilante, é um salto de fé. E valem o que valem. Estava aqui a pensar numa coisa tão simples como a escolha do meu curso. Hoje em dia, teria facilmente escolhido uma área completamente diferente e no entanto, na altura, não foi uma decisão penosa, foi bastante natural.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A escolha do meu curso foi completamente emocional e foi das coisas que mais prazer me deram em fazer e concluir, apesar de profissionalmente ter sido um tiro ao lado. Às vezes penso que talvez tivesse sido melhor se tivesse escolhido outra coisa, mas depois lembro-me do quanto gosto da minha área e acho que se voltasse atrás ia acabar por fazer a mesma opção, porque foi de facto bastante gratificante fazê-lo. Talvez não devesse era ter esperado por acabá-lo para começar à procura de emprego, porque em 4 anos o mercado de trabalho mudou completamente.

      Eliminar