sábado, 13 de maio de 2017

Avestruz emocional

Depois de ser mãe nunca mais consegui ficar imune a filmes, imagens, histórias ou relatos que envolvam histórias tristes, maus tratos ou morte de crianças. Abriu-se uma ligação directa entre o coração e as lágrimas, o que apesar de perceber a razão subjacente, é ainda assim de díficil explicação a facilidade com que me emocionava, porque eu fui educada sob a máxima de"uma mulher não chora". E a verdade é que nos momentos mais tristes da minha vida eu não consegui verter uma lágrima, e como teria sido catártico se o tivesse conseguido. Ter-me-ia poupado a muita coisa. Ter recuperado algum escape emocional fez-me sentir mais humana novamente e sobretudo aliviar-me emocionalmente de fardos que me remoem de tempos a tempos. 
Depois de ter sido mãe novamente, essa ligação directa voltou a fechar-se. Agora é como se um muro se tivesse erguido. Não sou capaz sequer de ler algo se suspeitar que vai roçar sequer essa temática. Sou uma avestruz emocional. Coloco a cabeça na areia e ignoro completamente, ao ponto de interromper o meu interlocutor e pedir-lhe para parar com a história. O mundo não é cor-de-rosa, mas dispenso a contaminação do meu mundo com males que não consigo evitar ou combater. E com isto perdi a minha ligação directa... 

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