domingo, 6 de setembro de 2009

As palavras

As palavras deixam de nos pertencer a partir do momento em que as proferimos. A partir do momentos em vivem para além de nós, nos ecos de quem nos escuta ou lê. E a partir desse mesmo momento já não somos capazes de voltar atrás. O sentido com que o expressamos deixa de nos pertencer. Pode ser adulterado, mal interpretado ou apenas subentendido, mas deixa de ser nosso. Podemos voltar atrás ou avançar, como novas palavras, com novos entendimentos, mas um pensamento desnudado dificilmente voltará a ser invisível. Ele é o espelho de um estado de espírito que embora mutável, num dado momento era apenas e somente aquele. Podemos mudar o pensamento, mas as palavras proferidas deixam sempre de ser nossas para passarem a ser de quem depois as perpetua.

sábado, 8 de agosto de 2009

Hoje apetece-me...


And still there was you, the center of me...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Estados do tempo

Há tempestades que surge num ápice. Trazem consigo trovoadas, chuva intensa e tal como rapidamente chegam, logo desaparecem. Outras demoram mais tempo a formarem-se. Vão lentamente cobrindo o horizonte, ensombrando os raios de sol e escurecendo o céu a pouco e pouco. Instalam-se, demoram tempo a passar e quando o fazem, fazem-no também lentamente, no seu ritmo próprio.

E depois…depois o sol volta sempre a brilhar e o céu a ficar a descoberto. Outras mais virão. No seu tempo próprio. Independentemente da estação do ano ou dos nossos desejos. Resta-nos procurar um chapéu ou refúgio ou deixar a chuva simplesmente cair sobre o corpo, sobre a face, sobre aquilo que não quisemos salvaguardar. Mas a opção é sempre nossa, na certeza que na sua inconstância há sempre algo que se repete de alguma forma.

Quer queiramos, quer não.

Foto de Bruno Silva

quinta-feira, 23 de julho de 2009

The Presets - If I Know You


I'm always learning things the hard, hard, hardest way.

domingo, 19 de julho de 2009

Neste cais de onde te aceno

Percorres o meu pensamento e no entanto não te detenho. Passas por mim. Flutuas no meu ser sem contudo permaneceres em mim. É fugaz esta sensação de pertença. Desvanece-se à mais pequena brisa de (in)diferença.
Quantos mais barcos de papel lançarei no teu mar?

domingo, 28 de junho de 2009

Os lugares onde não regressamos

Há lugares que não voltamos porque nos desagradaram. Por um qualquer cheiro que se colou àquela imagem e que não gostámos. Ou porque nos relembram momentos menos felizes. Ou então porque nos tocaram de uma forma especial, tão especial que mudaram para sempre a nossa forma de ver o mundo. Um mundo que está em constante mutação. E de repente, sem que se saiba bem como nem porquê, nem sequer o exacto instante em que a nossa vida deixou de ser em linha recta e passou a andar às voltas. Há lugares assim, que nos mudam, que nos alteram e nem sempre disso nos apercebemos naquele mesmo instante em que aconteceram. E depois? Depois por muito que queiramos lá voltar isso não é possível. Mesmo que efectivamente lá regressemos. Por isso há lugares que eu sei que não volto. Não volto porque sei que fui muito feliz e prefiro guardar deles essas mesmas recordações. Tal como não entramos duas vezes no mesmo rio. Tal como não escrevemos duas vezes o nosso nome da mesma maneira. Há lugares assim. Só lá vamos uma vez. Mudam a nossa vida mas não regressamos jamais…

sexta-feira, 27 de março de 2009

Retratos de uma outra urbanidade

Sempre gostei da paisagem à beira rio. Os retratos de tempos idos em que as pessoas se banhavam sem receios nas margens do Tejo sempre me fascinaram. Fazem parte daqueles momentos que, embora não tendo presenciado, me transmitem contudo alguma nostalgia. Talvez por pensar que pertenceram a tempos menos complicados, mais pueris, envolto nas simplicidades das vontades singelas.

Eis senão quando sou surpreendida pela naturalidade de uns miúdos que tendo o Verão dado os primeiros sinais de vida, resolveram fazer algo para combater o calor da hora de almoço. E mesmo com calções de banho improvisados e sem toalha é vê-los a tomar banho nas águas do Tejo. Considerações à parte quanto à qualidade das águas e aos perigos da corrente, não pude deixar de sorrir.

Cristalizasse eu esses momentos a sépia e poderia sem grande dificuldade guardar um bocado de tempo suspenso que facilmente poderia ser confundido com esses retratos de tempos mais longínquos...

sexta-feira, 20 de março de 2009

Chega de mansinho a Primavera

Saio apressada pelo corredor fora. À minha espera tenho o sol, o calor, um dia azul. Tenho urgência de sentir as cores de um dia assim. Pego no carro e percorro solitária a rua estreita até ao rio. No ar a atmosfera agradável de uma banda sonora coincidente com os meus desejos. Olho em frente e contemplo a paisagem que me acalma o interior. O rio e ao fundo a capital como moldura. Percorro a linha do horizonte e detenho o olhar no barco que está a atracado no cais. Pavilhão português. A proveniência coincide com o meu próximo destino. A lembrar que continuo em viagem. Entre partidas e chegadas. Ausências que se querem presentes. Dedico estes momentos apenas a mim mesma. Onde tudo o resto pára e apenas eu continuo viagem pelos meus pensamentos. Que se sucedem a uma velocidade lenta, planando entre o quotidiano e o futuro. Enquanto navego absorta, o meu olhar cruza-se com o voo rasante de uma andorinha. É a primeira que vejo. Sorrio. Estranha coincidência (mais uma)? Ou será talvez a Primavera a chegar finalmente a este cais?…

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Da minha janela

Vejo a miríade de telhados e chaminés fumegantes que o casario térreo ocupa.
Oiço as conversas domingueiras da vizinhança na escadaria estreita da ermida.
Sinto o calor do sol que em tantas tardes frias de inverno me aqueceu a alma.
Contemplo as cercanias, troco olhares com a serra de Sintra que ao longe se destaca com a Peninha como baluarte e relembro essa velha promessa ainda não cumprida de ir até lá.
Entrego-me aos pensamentos. Outras vezes fujo deles, abstraio-me da sua perseguição e deixo-me ficar à espera que a aquela paz interior que sentimos quando nada mais nos perturba resolva fazer-me companhia. Mas ultimamente ela anda arredia. Volto uma e outra vez à sua procura e não a encontro. Fico no silêncio e deixo que o barulho da noite me envolva na esperança de a sentir chegar. Mas ultimamente acabo por fechar a janela sem ter o prazer da sua presença. Despeço-me de Sintra, dos telhados e chaminés fumegantes. Das sombras prateadas da noite. Do barulho do silêncio. E respiro fundo.
Quem sabe amanhã? Volto atrás e acabo por deixar a janela entreaberta…

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Travessa do Cais Azul

A vida é feita de pedaços de tempo. Alguns vêm embrulhados em cores e aromas intensos. Outros em momentos que passam sem deixar rasto. E em cadências que se sucedem, alternam estados de espírito e cumplicidades.
A partida de um momento é simultaneamente saudada pela chegada de outros. Como se de um cais se tratasse, num quase movimento perpétuo de vivências. Dessas persigo as que conferem a tonalidade azul dos meus dias.

Este é portanto o meu ponto de encontro. E teria sempre de ser uma travessa, porque nada é linear, muito menos os pensamentos…