quinta-feira, 18 de março de 2010

Do silêncio #3

Foto daqui
Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 17 de março de 2010

Minimal thoughts #1

Se reduzir tudo ao mais pequeno detalhe, constato que este intrincado puzzle a que chamo vida obedece a uma lógica superior que não abarco.

terça-feira, 16 de março de 2010

Um dia mudo de vida...

...hoje é o dia.

Admiro as pessoas que conseguem mudar de vida, de cidade e de trabalho com a confiança de quem conquista o mundo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Dos bons sentimentos

Dos que não se pedem mas que se soltam sem esperar retorno. Dos que não têm hora ou momento certo para virem ao nosso encontro. Dos que não se escondem atrás de máscaras cansadas e distantes. Dos que se renovam se pedir licença, espaço ou sentido. Dos que nos surpreendem pela entrega minimal, sentida e simples. Dos que nos transportam para lá do nosso pequeno mundo. Dos que nos acolhem no olhar, no riso e no silêncio.
É nestes sentimentos que o tempo se sustenta, quando cansado se senta na beira da estrada…

 Foto daqui

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

The Go! Team - Doing it right

Um daqueles dias em que a única coisa que apetece é chegar a casa, descer ao rés-do-chão (que é como quem diz descalçar-me), pôr música bem alta, dançar como se não houvesse amanhã e esquecer-me do resto do mundo lá fora, bem ao jeito de Anatomia de Grey.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Termo incerto

Às vezes chega-se ao fim… Chega-se ao fim sem se saber que tudo já terminou muito antes. Sem se saber que o único caminho que resta é o da subida. Às vezes chega-se ao fim da força muda, dessa força que não existe a não ser num espelho que não nos reflecte. Sim, às vezes chega-se ao fim de nós, ao fim das palavras, ao fim do silêncio e da cor. Ao fim dos recomeços, dos avanços e recuos, das sombras e dos desenhos a carvão. Do espaço que não é teu, nem meu, nem tão pouco dos outros ou nosso apenas. Às vezes chega-se ao fim do ser num tempo que já não é este, é outro diferente, maior e inteiro. Do tempo suspenso, intemporal, imutável contado a partir das pedras que compõem os sonhos e devaneios. Às vezes chega-se ao fim do que temos. De tudo o que somos. Do que quisemos ser. Do que imaginámos que seriamos. Do que gostaríamos que fosse. Sim, às vezes chega-se lá…























Foto daqui

domingo, 17 de janeiro de 2010

Do número 2

Dois encontros com quem há muito não via. Dois momentos distintos no tempo. Dois dedos de conversa para pôr alguma coisa em dia. Duas formas de estar completamente diferentes. Duas etapas de vida regidas pela lógica de cada idade. Duas constatações: que estou diferente e que continuo igual a mim mesma. Duas coincidências. A mesma conclusão.

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

...

Na lista dos teus fins venho no fim
de uma página nunca publicada,
e é justo que assim seja.
Embora saiba
mexer palavras, e doer de frente,
e tenha esse talento conhecido
de acordar de manhã, dormir à noite,
e ser, o dia todo, como gente,
nunca curei, como previa, a lepra,
nem decifrei o delicado enigma
da letra morta que nos antecede.
Por muito te querer, talvez pudesses
dar-me um lugar qualquer mais adiante,
despir-te de pudor por um instante
e deixá-lo cobrir-me como um manto.

António Franco Alexandre

Foto daqui


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Não é possível ficar indiferente

Às imagens e noticias que chegam do Haiti. Para quem está longe da catástrofe fica uma desconfortável sensação de impotência. O pensamento paira sobre esta efemeridade que é a vida humana e do que dela fazemos. No tempo que perdemos nas pequenas coisas que afinal não são mais do que apenas isso: pequenas. Às vezes tão pequenas que constrangem quando para trás olhamos. E com o tempo que com elas perdemos. Tanto. Demasiado. E pesam, muito. Não passam numa sucessão de nadas que somados não dão coisa alguma e no entanto insiste-se sempre, uma vez e outra mais. Para quê? Hoje estou aqui, amanhã não sei. Entre o agora e o amanhã cada vez mais escolho ser apenas. Sem egoísmos ou falsos altruísmos, que não são mais do que a outra face da mesma moeda. Sou. Apenas isso. Para que no dia em que feche os olhos não me pesem os nadas. Para que o que sou seja suficiente para sentir que valeu a pena.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Do silêncio #2

Entre a folha branca e o gume do olhar
a boca envelhece

Sobre a palavra
a noite aproxima-se da chama

Assim se morre dizias tu
Assim se morre dizia o vento acariciando-te a cintura

Na porosa fronteira do silêncio
a mão ilumina a terra inacabada

Interminavelmente

Eugénio de Andrade

















Foto daqui