quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Mon dieu de la france, donne moi la pacience

Acho que nascemos com uma reserva de paciência que deve ser gerida ao longo da vida. Acontece que ninguém nos avisou que esta reserva é finita e, uma vez esgotada, não há lugar a reabastecimento. O problema dá-se ali por volta dos 40 anos, em que já se esgotou toda a paciência que nasceu connosco e nos damos conta que já não estamos para aturar merdas de ninguém. E se noutros tempos a malta até revirava os olhos, respirava fundo, contava até 10, a coisa acalmava e nós insistíamos em tentar resolver, talvez em busca de uma qualquer redenção, agora sem essa reserva de paciência sobram duas hipóteses:
          a) ou viramos costas, vestimos o fato da invisibilidade e ficando imunes às consequências.
          b) ou partimos para a peixeirada

(...)
Não me orgulho, que não é este  exemplo que quero dar à minha prole, mas pela primeira vez optei pela opção b.
(em minha defesa: 1) fui provocada e optei por não me calar. 2) Não, não foi bonito, mas no fim até acho que fiz serviço público. 3) estava sozinha)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A minha janela

Trabalho junto a uma janela, ao nível do r/c, mesmo ao lado de um estacionamento, que afunila próximo da minha janela. O passeio tem cerca de 80 cm de largura e depois há a minha janela, que até é grande por sinal. É suposto os carros estacionarem paralelos ao passeio e à minha janela. Mas depois... depois há toda uma criatividade automobilística que eleva a expressão "entrar por caminhos estreitos" a um outro nível... o nível da minha janela... Hoje foi o dia em que quase ganhei uma janela nova. Não ganhei foi para o susto...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Figuras tristes

Marcar o número de telefone na calculadora e ficar à espera de ouvir o sinal de chamada. Não satisfeita, ao constatar que não é feita a ligação ainda ofende o telemóvel (que estava sossegadito dentro da mala lá a tratar de coisas da vida dele) por não estar a fazer o serviço que lhe compete.
E demorar uns longos segundos até reparar que está mentalmente a descompor o objecto errado.
Senil... estou a ficar senil...

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Equilíbrio


Talvez no final de contas tudo se resuma a uma questão de equilíbrio. Podemos ser o que quisermos, da forma que quisermos, desde que estejamos em equilíbrio. Acomodar as diferenças e as discrepâncias entre camadas que façam sentido. Ainda que aparentemente assim não seja. E fazer este exercício todos os dias, não por necessidade de criar um momento solitário, prenuncio de uma qualquer epifania, mas sim porque é desta desconstrução e simplificação que se consegue percorrer o caminho entre aquilo que é esperado e o que é de facto vivido.
Neste ainda curto caminho, aquilo que é o meu farol no meio de todas estas circunstâncias às quais me estou a adaptar, é a procura deste equilíbrio, para que o mundo dele seja o mais profícuo possível, e as diferenças, a virem a existir, sejam vividas de forma equilibrada.  



segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Ai, o Natal, o Natal...

- Ò mãe, na véspera de Natal não podemos ter os estores da sala para baixo.
- Porquê?
- Se não como é que o Pai Natal sabe que estamos em casa?
(...)
- Mãe, como é que achas que o Pai Natal distribui as prendas? É por ordem alfabética?
(...)
- Mãe, mas como é que o Pai Natal consegue distribuir prendas para todos os meninos ao mesmo tempo? Somos tantos!!
(...)

(Desconfio que este será o último ano em que, algures durante a noite, se ouvirá um som parecido com o das renas a cruzar o céu...)

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Disto de ser mãe


É sermos este ser irracional que se emociona ao ver uma foto do caçula, imaginado (e quase que ouvindo) a gargalhada que ali ficou cristalizada. É olhar os olhos sorridentes, a pose de gingão, tão crescido e tão inocente, e pensar que queremos para sempre manter esta inocência e simplicidade. É esquecer o turbilhão de coisas a voar pela casa, mal a porta de se abre até que o sono leva a melhor; é sermos vencidos pelo abracinho, pelo pedido de colo, no minuto a seguir a ter ocorrido a maior birra que há memória. É lutar contra estas incertezas e manter a serenidade que estamos a ir na direção certa. É viver com o coração fora do peito, oferecendo-o como escudo contra tudo o possa ser menos bom, é sermos este ser emocional e emotivo que se comove com as coisas mais banais e insignificantes. E é ter a certeza que não há amor maior que este, que cresce todos os dias, um pouco mais, que não tem fim, nem teve início e que me leva a olhar muito para além do meu próprio umbigo, num exercício quotidiano que eu julgava não ser capaz.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

The curse

Talvez o dia ainda se cumpra.

(hoje voltei a apaixonar-me... e os pequenos nadas devolveram-me o conforto das coisas simples. Enquanto houver música, haverá chão)

Urbanidade

Admito. Sinto falta dela.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Pequenos prazeres que me definem


Fazer pequenos trabalhos manuais. Conjugar tecidos, materiais, cores e formas. Dormir 8 horas. O cheiro das castanhas cozidas pela casa. O abraço deles. O cheiro deles. O riso deles. Caminhar pelo meio de paisagens de Outono. Escolher uma roupa bonita. Enroscar-me no sofá a ver um filme lamechas. Espreguiçar-me. Caminhar ao pé do mar. Não ter horários. Tomar aquele café com aquela pessoa. Desligar o telemóvel. Procrastinar. Sentir o sol no corpo. Caminhar devagar. Silêncios. Ouvir a Radar. Ter tempo para mim. Escrever aqui.



(às vezes, quando o mundo começa a girar demasiado depressa e eu tenho dificuldade em acompanhar, penso em algumas destas coisas. Às vezes resulta. Outras vezes nem por isso e fico ainda mais para trás. Mas quando resulta... quando resulta eu volto sentir aquela serenidade, como se um abraço me envolvesse e uma voz me dissesse "vai tudo correr bem")

domingo, 3 de novembro de 2019

Desta viagem

Sempre que penso que é desta que as coisas começam a acalmar, eis que surge mais um turbilhão de sentimentos, de dúvidas, incertezas, angústias, caminhos longos e esburacados. Tenho percorrido uma boa parte dos problemas deste país na primeira pessoa, e agora na parentalidade também. Certezas não há nenhumas, apenas o meu instinto, que não tendo validade cientifica nenhuma, ainda assim me faz acreditar que no fim isto tudo vai dar certo.  E é com este farol, esta esperança, que vamos iniciar mais um admirável mundo novo: o do espectro do autismo.
Pois bem... bring it on.