terça-feira, 29 de maio de 2012

O absurdo manda cumprimentos

Há quem coma o pão que o diabo amassou. Eu hoje comi pó. Muito. E vi-me grega para voltar à minha côr natural. Começo a desconfiar que tudo isto anda interligado. Pelo sim, pelo não, vou comprar requeijão e doce de abóbora não me vá dar uma fome daquelas e eu sem acompanhamento.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Profissão: mãe

6h45m – Toca o despertador. Às vezes (poucas) a palrar. Mais frequentemente a toque de choro.
7h00 – coloca-se a chucha, faz-se festinhas na cabeça e sai-se em bicos de pés
7h15 – toca o outro despertador, que há quem ainda tenha emprego nesta casa.
7h30 – Voltamos a palrar/chorar com mais intensidade. Dou por terminada a minha tentativa de dormir um pouco mais.
7h45- preparo o pequeno-almoço do piqueno. O graúdo que se desenrasque.
7h50 – começo a dar o pequeno-almoço
8h00 – o graúdo toma o seu pequeno-almoço.
8h15 – o graúdo acaba de tomar o seu pequeno-almoço e sai para trabalhar
8h30 – acabo de dar o pequeno-almoço ao piqueno, à mesa, ao chão, a mim própria.
8h40 – vou tomar banho
9h- solto a fera que estava no parque, depois de ter derramado 2 litros de choro enquanto eu tomava banho. Os inúmeros brinquedos que estavam no parque foram projectados para todo o lado, alguns dignos de marca olímpica.
10h – vou sair com o piqueno. A calçada portuguesa óptima para cansar a fera…ou não.
12h30 – começo a dar o almoço ao piqueno. O graúdo, diz que vem almoçar a casa. Olho para a dispensa e confirmo que lhe arranjo um suculento almoço enquanto olho para as latas de conservas.
13h15 – acabo de dar o almoço ao piqueno, à mesa, ao chão, a mim própria.
13h30 – vou adormecer a fera.
13h45 – continuo a adormecer a fera
14h – a fera adormece por fim e volto para a cozinha para fazer o almoço do graúdo.
14h30 – almoço
15h- começo a arrumar a cozinha e a fazer a sopa para o piqueno
16h- acabo as tarefas domésticas e sento-me ao computador.
16h15 – a fera acorda
16h30 – vou dar o lanche à fera.
17h15-acabo de dar lanche à fera, à mesa, ao chão, a mim própria.
17h30 – solto a fera e passo as próximas 2 horas a impedir todos os disparates e mais alguns que se possa imaginar.
19h30 – chega o graúdo
19h45 – vou dar banho à fera, ao chão, a mim própria
20h15 – vou dar o jantar à fera e a tudo o mais num raio de 2 metros dele.
21h00 – vou adormecer a fera.
21h30 – continuo a adormecer a fera
22h – a fera finalmente adormece.
22h15 – sento-me no sofá para estupidificar um pouco em frente à televisão
22h30 – adormeço exausta no sofá

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Esvaziar gavetas

Pensei que fosse diferente. Eu iria despedir-me de quem gostei verdadeiramente de trabalhar. Iria trocar endereços de e-mail e actualizar números de telemóvel. Marcaríamos um almoço de despedida ou uma jantarada. Iriamos recordar histórias antigas e repetir as piadas mutuamente conhecidas, até à exaustão. Falaríamos dos cromos que passaram pelo departamento, pela empresa, pela nossa vida. Voltaríamos às noitadas em frente ao computador, ao stress que acompanhava essas directas, às saudades de casa quando a vida era feita de malas às costas. Haveria um ponto final, definido, conhecido, partilhado.
Apenas não pensei que nos desmembrássemos assim, cada um por si, sem despedidas, abraços, ou votos de boa sorte. Hoje foi a minha vez de esvaziar as gavetas. E no fim não foram apenas as gavetas que ficaram vazias…

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Anúncio

Sem retoques ou maquilhagem. Palavras caras ou frases enigmáticas de duplo sentido. Sem remorso ou vergonha. Sem medo de rótulos ou de estereótipos. Hoje assumo-o perante o mundo, independentemente das suas consequências futuras: esta é a música que hoje me apetece ouvir em repeat.


quinta-feira, 3 de maio de 2012

Morning Picture

Chove copiosamente. Páro o carro e corro o fecho do kispo. Limpo a janela embaciada e espreito. Lá fora tenho o meu sogro já de chapéu-de-chuva aberto em punho. Suspiro aliviada. Afinal já não tenho de tirar o puto à chuva, pensei. Saio apressada para abrir a porta e a meio da tarefa herculiana que é a de tirar um matulão de 12 kg adormecido, desprende-lo dos cintos e aconchega-lo a mim com uma manta, eis que reparo numa incómoda frialdade que se vai instalando em mim, começando nas costas e acabando nos sapatos. O cabelo começa a escorrer água e qualquer semelhança entre mim e um pinto ensopado já não é coincidência. Nesse momento percebi que o meu sogro e eu tínhamos ideias completamente contrárias quanto à utilização daquele chapéu-de-chuva. Eu pensava que seria para nos abrigar a todos. Ele nem por isso. Aliás eu nem sei o que estaria ele a pensar. Ou se pensou de todo. Ou se pensou que eu iria pensar por ele. E pensando agora melhor, mais vale não pensar mais nada. A bem da harmonia familiar. Penso eu…

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Trabalhar em casa

Não é para mim. Nem para os que me rodeiam. Lá porque estou a trabalhar a partir de casa, isso não quer dizer que não trabalhe. Ou que tenha toooooooooodo o tempo do mundo para fazer tudo e mais um par de botas e que acaba por consumir por completo o tempo que eu tinha destinado para (pasme-se!) trabalhar (que ousadia!...). Pessoas do meu coração e que comigo convivem, já me custa ficar por casa, que eu sou uma criatura de exterior, sobretudo por alturas da Primavera e Verão. Custa-me ainda mais sabendo que este é o derradeiro desafio perante o qual sou colocada nas actuais circunstâncias e sabendo que muito do meu futurinho dele depende, mexe-me particularmente com o nerviosio miudinho que me estejam continuamente a solicitar para fazer coisas que poderiam perfeitamente ser feitas noutras alturas e que não seriam de certeza atendidas se eu estivesse a trabalhar na empresa. E agora que já tirei isto do meu sistema vou fazer pela vida, já que ela não anda a fazer por mim ultimamente.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Mon Diê de la France, done mua la pacience…

Se hoje eu oiço mais algum prontUS, percebesteS, ouvisteS, Tas a ver? e outras muletas tais eu acho que não respondo por mim, mas também por todos aqueles que, não sendo conhecedores profundos da língua portuguesa, têm ainda assim um carinho especial pelo falar português de forma correcta e parto para a violência…

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Deste azul que já foi meu

Conservo a essência dos dias passados. Notas de saudade, aqui e ali, sem mágoa que a pele já se encontra curtida pelo tempo. Restam os aromas e as cores. Os sons do mar revolto em noites de Inverno e pouco mais. Não sei se algum dia voltarei, sabes? Prefiro guardar-te assim, envolta em névoa, escondida debaixo da pele. Parte distante de mim que em mim habita. A lembrar um azul que já foi meu.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Previsão do estado do Temp(erament)o

Prevê-se para o dia de hoje a continuação da ocorrência de mau humor. Os níveis de antipatia podem atingir valores elevados, diminuindo de intensidade à medida que o nível de proximidade pessoal diminui. Possibilidade de ocorrência de irritabilidade, podendo passar para impaciência ao longo do dia (se não me contrariarem muito). Para amanhã espera-se que o sol reponha os níveis de seratonina, mantendo contudo o alerta amarelo para os mais próximos.

(considerem-se avisados)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A minha vida dava uma "soap opera"

Todos temos momentos que parecem tirados de um qualquer filme de segunda categoria, com um enredo simples e um final antecipado pelo próprio título do filme, mas que pelo meio é recheado de voltas e reviravoltas, a lembrar uma qualquer soap opera americana dos anos 80. Sabemos exactamente para onde a história nos conduz, mas ainda assim não conseguimos evitar sentir uma certa empatia pelos personagens e pela narrativa. Sofremos por eles, emocionamo-nos com eles, fazemos temporariamente parte daquela história, mesmo que conscientemente saibamos que não é suposto sentir um grau de identificação tão grande por um filme menor.
A minha vida laboral tem sido assim nas últimas semanas. Muitas peripécias que eu pensava não viver na primeira pessoa, por ser um enredo próprio de uma realidade distante. O argumento, embora ainda em adaptação, sugere um história simples, igual a milhares de outras que grassam por este pais empobrecido, mas com contornos e reviravoltas desgastantes e constantes. Eu, que sempre pensei saber guardar uma distância emocional segura entre trabalho e vida pessoal, vejo estas duas vertentes imiscuírem-se dia após dia. Tudo isto desgasta. Mói cá dentro. E a distância de segurança desaparece. Já não são os carros da empresa que são selados, ou as mesas penhoradas, é um pouco de ti que é carregado sem cuidado para um qualquer camião à chuva. É a informação e desinformação que circula ao longo dos dias. Palavras como comissão de trabalhadores, fundo de garantia salarial, incumprimentos, insolvência passam a fazer parte do teu léxico e das tuas preocupações. O tempo passa e nada se decide. O futuro será com certeza bem diferente da realidade que conheço mas enquanto o final esperado não acontece, terei de aprender a conviver com as reviravoltas de um enredo que me diz mais do que gostaria, sem términus à vista e para o qual já se sabe antecipadamente o desfecho.